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O início do fim do ano

Everything’s changed at Christmas…
… but you.

Acho que o fim de ano começa lá para outubro. Na infância, a semana do saco cheio é que marcava esse “início do fim”. Sem a tal semana agora, o feriado do dia 12/10 ainda me traz essa sensação de: começou o fim do ano. A cabeça já começa a avaliar retrospectivamente os planos do ano corrente, a jogar o que não foi cumprido (algo em torno de uns 90%) para a agenda do ano seguinte e os supermercados já vendem panetone (e sua versão redimida: o chocotone).

Eu gosto dessa sensação. Apesar de ser extremamente ansioso e ter que lidar com os projetos frustrados e com a imensidão de coisas que quero me prometer fazer no ano seguinte, eu gosto muito dessa época do ano. Músicas natalinas passam a ser permitidas, teatros e cantatas começam a ser montados, e eu tenho certeza que a Carol já começa a pensar na decoração para o Thanksiving e nos cookies natalinos.

Aí chega novembro, mais dois feriados, e, pronto, já é fim de ano para valer (dias atrás saiu publicado no Diário da Justiça Eletrônico de São Paulo que o dia 20 de novembro passa a ser feriado estadual a partir de 2023. Com isso, o mês de novembro terá, este ano, três feriados e uma emenda. Acho que em breve novembro será considerado um mês-feriado e pularemos de outubro para dezembro! Não, não é uma crítica).

Durante um tempo eu tive meus problemas com o fim de ano. Natal e Ano Novo remetem à família, amigos e a Algo ainda mais profundo que une e dá sentido às coisas. Quando criança, acho que ninguém imagina que circunstâncias vão mudar, que coisas vão ter fim (nessa fase, o fim de ano não é bem um “fim”)… Até que o primeiro familiar falte a uma festa em dezembro, até que um amigo mude de cidade… de repente, o filme da TV e o Frank Sinatra parecem perder uma graça que eles sempre tiveram. E então cai a ficha. As coisas mudam. Muitas vezes, para pior.

Eu estava nessa, meio revoltado com aniversários e fins de ano quando conheci minha esposa — a moça acima, do Thanksgiving e dos cookies, a pessoa que mais ama tradições na face da terra. Ela me devolveu a graça por fins de ano, por montar árvores, colocar presentes nas árvores, fazer devocionais do Advento1… Comecei essa crônica meio que sem saber onde ela ia levar2. Até perceber que não teria como falar de fim de ano, e de como eu gosto dessa época, ou de como eu voltei a gostar dela, sem falar da minha esposa — que, eu espero, faça mais cookies e biscoitos do que no ano passado. Não deu nem para o cheiro.

Eis, então, algumas palavras sobre o que esses finais de ano significam para este escritor. Já, já eu estarei me prometendo, como um menino sonhador, ler 1 livro por mês, escrever umas 30 crônicas no ano, terminar o livro de contos, o romance a quatro mãos, voltar a estudar violão, atingir os 1700 de rating… até a vida adulta me lembrar que uns 90% vai ficar para 2025. Até a vida me lembrar que tudo muda. Até a Carol (e “Algo ainda mais profundo”) me lembrar que quase tudo muda. Quase tudo.


Notas:

1 Eu não fui capaz de ser para minha irmã, por exemplo, que montava árvores sozinha (ou quase isso) em natais acinzentados, o que a Carol foi para mim. Não sei por que motivo achei que eu devesse expurgar de mim essa confissão. Talvez fins de ano sejam também épocas de duras confissões?

2 Eu prefiro escrever com a ideia toda já montada; mas não rejeito vez ou outra ir escrevendo pra ver onde vai dar…

2 respostas em “O início do fim do ano”

Que maravilha de texto, uma forma boa de relatar as mudanças que acontecem e que as vezes são inevitáveis, família e amigos. Que bom que a Carol te trouxe esse entusiasmo novamente com a data do fim de ano. Ansioso para novos contos

Ah, o ano novo!! Sempre as eternas promessas e as resoluções que quase nunca dá certo.

É bom saber que tem alguém voltou a gostar de fim de ano. Eu tenho um pouquinho de dificuldades com isso porque só penso numa coisa: treinar que é o eufemismo de escrever.

Fim de ano pra mim é ruim por que as rotinas mudam muito nessa época do ano e a cabeça entra em colapso.

É aquela conclusão óbvia: hora de começar tudo de novo, meu amigo.

Até a próxima, senhor Misael Pulhes.

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