O BBB nosso de cada dia

Tudo bem que não é de hoje que a curiosidade sobre a vida humana e, principalmente, a do outro, movimenta a vida das pessoas. Me lembro da minha avó interessada em saber sobre que fim levou o marido daquela atriz, que fazia o papel principal da novela. Portanto, entre um BBB e outro, o que as pessoas querem mesmo é saber da vida alheia, alguns mais, outros menos. 

Como disse José Ângelo Gaiarsa, em O Tratado Geral Sobre a Fofoca, lançado em 1978, e tão atual, “é preciso muita imaginação para fazer fofoca. O que não se diz sempre com a desejável clareza é que a fofoca é a imaginação de quem faz a fofoca.”

No caso da Roberta, a coisa foi um pouco atrapalhada. Diferente da maioria, ela era uma pessoa pouco interessada na rotina alheia e muito em paz com sua própria vida. 

Roberta só não sabia que estava prestes a entrar numa família com um hábito um tanto quanto estranho. Conheceu os parentes do namorado, num dia de aniversário de um dos primos, e como era uma família numerosa, mal conseguia guardar o nome das pessoas. 

Um trio feminino daquela árvore genealógica conversava, animadamente, na piscina, com seus maiôs exuberantes e seus óculos escuros.

—  Nossa! Gente, você viu como a Paola tá diferente? Na última vez que a vi, estava estranha.

Roberta, tentando ser simpática, olhava para a irmã da moça que ia responder a pergunta, preocupada se a tal Paola estaria por perto. 

— Tá mesmo, eu também percebi. Você não acha, Roberta?

A pergunta soou como uma tentativa de aproximação. Mas, vai que a Paola é aquela prima chata que ninguém tem muita paciência, que, por acaso, poderia ter acabado de chegar na festa?

Um sorriso amarelo, debaixo do sombreiro, bem perto da piscina,quando um garçom aproximando-se, todo simpático, a salvou. Ao invés de responder a pergunta, pediu um drink. A outra irmã que estava com os pés na água e o celular nas mãos, continuou.

— Vish, eu não gostei desse tom de cabelo do Reinaldo! Mas, é um gato, né?

Respingos do mergulho para fora da piscina, burburinho dentro d’água e as três irmãs rodeando o celular. “Uau, gato mesmo!!!” Nessa altura, a espriguiçadeira, onde estava recostada,  já era desconfortável. Tentando identificar nas pessoas, que acabavam de chegar, o tal Reinaldo, ela resolveu arriscar:

— Mas, ele ficou feliz com o cabelo novo?
— Oi? Ele quem? 
— O Reinaldo! 

Gargalhadas dentro d’água…

— Ahhhh, como vamos saber?

Mais gente chegando, cumprimentos, apresentações, pra lá e pra cá. Até que o namorado, que tinha ido buscar a avó, no bairro vizinho,  retornou e se dirigiu às primas, enquanto abria uma lata de cerveja.

— Eita, vocês estão que nem o Zeca, né?
— Isso, mesmo. Deixa a vida me levar! 

Num estalar de dedos, Roberta percebeu que os nomes eram de celebridades. Não tinha ali nenhuma Paola, nenhum Reinaldo, muito menos Zeca.

O fim de semana foi esticado demais, para quem não se importava com a vida alheia. A Bruna, o Gustavo, a Vanessa, o Luan, cada hora um nome novo na boca de alguém da família. E junto, uma notícia inútil, qualquer. Roberta se cansou de adivinhar quem seria agora. Talvez, uma boa leitura fosse mais interessante. Deitada na rede, viu quando a sogra passou por ela, em direção a cozinha, sorriu e se voltou. 

— Você gosta da Clarice? Ela é ótima, né? Me parece um pouco deprimida, mas eu gosto.

Cansada dessa multidão de seres que habitam o cotidiano da família, numa intimidade sem razão de ser, Roberta alegou cansaço e antecipou sua volta. Ao entrar no carro, o namorado, prestes a virar ex, perguntou: 

— Vai sair assim, sem dizer nada, Charles?
— Tempos modernos, meu querido!