Uma amiga sempre me elogia quando me vê usando um brinco que tenho. É uma peça antiga de prata, tem uma forma engraçada, está repleta de pedrinhas brilhantes e uma pérola. Eu também adoro esse brinco porque é lindo, diferentão e é da minha mãe. “Peguei emprestado” há alguns anos e ainda não devolvi, pelo que já considero o brinco mais nosso que só dela.
Mesmo assim, eu nunca tinha parado pra pensar muito nesse brinco, não mais do que os poucos segundos que levo pra escolher o que vou usar em cada dia. Porém, depois que minha amiga repetiu várias vezes como gostava dele, eu comecei a reparar mais nesse adorno tão querido. E pensei, que louco! Minha mãe deve ter comprado esse brinco há pelo menos uma década. Ele foi usado por ela durante anos, até que foi levado por mim para outro país, para ser usado em uma nova orelha por vários anos mais.
Ou seja, toda uma viagem viveu esse brinquinho, passando de mão em mão, orelha em orelha, caixinha de joias em caixinha de joias… Fiquei curiosa pensando nessa trajetória e até mandei mensagem pra mamãe perguntando se ela lembrava onde, como ou porque tinha feito essa aquisição. Como será que esse brinco apareceu em nossas vidas? Há quantos anos está na nossa história, presente em seu silêncio inanimado em tantas ocasiões, boas ou más?
Prometo não começar a filosofar aqui sobre objetos porque, no fundo, coisas são somente coisas. Não deveriam importar tanto assim. Mas dessa reflexão doida cheguei à conclusão de que alguns bens materiais têm mais importânica que outros porque vemos neles uma história entrelaçada com a nossa. Um brinco, uma foto, um livro, um vaso, um bibelô, uma lembrança do que foi, do que somos, de quem somos. De como mudamos enquanto aquele objeto permaneceu igual, talvez para nos mostrar que por mais que nos transformemos, algumas coisas são inalteráveis, como a beleza dos momentos que vivemos e das emoções que sentimos.
Repito, coisas são somente coisas, e eu vivo perdendo as minhas, provavelmente porque sou bastante estabanada e estou mais no mundo da lua do que aqui na Terra. Mas tomo um cuidado especial com o brinco da mamãe porque sei que se chegar a perdê-lo vou sentir falta do peso dele na minha orelha nas próximas aventuras que viver por aí.

Me chamo Regiane, tenho 31 anos e sou natural de São Paulo. Me formei em jornalismo e desde então trabalho com comunicação, principalmente produção de conteúdo e marketing. Tenho uma página no Medium, na qual publico periodicamente desde 2017, além de escrever para outros portais e manter uma newsletter mensal no Substack. Em 2020 publiquei meu primeiro livro, “AmoreZ”, tanto em português como em espanhol. E em 2023 estou publicando meu segundo livro, “Mulheres que não eram somente vítimas”, com a editora Folheando.
2 respostas em “As histórias por detrás das nossas coisas”
E o que sua mãe respondeu? Agora quero saber kkkk
Haha disse que não lembrava, acredita? Fui obrigada a inventar a minha própria história pra explicar esse brinco 😀