Lancei um livro na FLIP. Isso é tão bom de dizer que ninguém se espante se me ouvir falando pra moça da padaria, assim como quem não quer nada, entre um “bom dia” e o “será que chove?”. Já o fiz com o rapaz da farmácia, quando fui comprar antialérgico e dei um jeito de informá-lo sobre o meu feito. O porteiro do meu prédio também tá sabendo. Bom, lançar um livro desperta um tal comportamento estranho em todo mundo. Né?
Em Paraty, vivi 4 dias intensos. Acompanhada por 43 autores de um lado e mais de 50 autoras do outro. Trabalho e sonho. Com eles (e elas), como editora-assistente da editora onde trabalho. Com elas (só elas), o meu Coletivo Escreviventes. Tive encontros tão incríveis!
Cheguei à Casa, arrumei os livros, estendi o banner, me preparei para algo que não sabia o que era. Dada a largada! Lembro-me da 1ª pessoa que comprou um livro meu, logo na quinta à noite. Uma senhora de cabelos branquinhos, amável, na companhia da família. Ela pegou um exemplar sobre a bancada e examinava a capa quando me aproximei – “É meu”, eu disse, timidamente. Ela sorriu. Se interessou mais, fez perguntas sobre o enredo, desatei a falar. Ela fez um sinal positivo com a cabeça, chamou o marido para fazer o pagamento. Caprichei na dedicatória. Coração aos pulos. Estreei na FLIP.
Outras vendas aconteceram durante o fim de semana. Sexta e sábado corridos. Algumas, eu nem estava presente. Calma! Não vou bancar a best seller (ainda), mas aconteceu uma ou outra vez.
Na maior parte do tempo, corri de um lado para o outro insanamente atendendo demandas de um tanto de gente tão estreante quanto eu naquela coisa grandiosa. Mantive a calma – fingi bem.
Vendi mais livros meus e dos / das colegas. Participei de mesas, de um Sarau, falei bastante, me perdi na cidade, suei muito, teve apagão, dei informação pra gente perdida (como?!), trupiquei nas pedras lisas na chuva e no escuro. Minha família apareceu de camiseta verde-meu-livro e foto estampada. Chorei. Encontrei tanta gente! Muitas fotos. Sorri e chorei de novo. Paraty é um encanto. Com perrengue e tudo.
No domingo, último dia da aventura, meus pais e um casal de amigos se juntaram a mim e ao meu marido. Era dia de despedidas, clima de fim de festa. Levei todo mundo para conhecer o estande do meu Coletivo.
Enquanto eles foram olhar o espaço ao redor, eu fiquei por ali com as parceiras de empreitada para mais fotos, mais abraços, troca de impressões, “causos” e fofocas de bastidores. Perto do meio-dia, a hora derradeira: a gente tinha que recolher livros não levados, se despedir, prometer voltar, lamentar que passou rápido. Conversávamos em roda quando uma moça se aproximou. Passou os olhos pela mesa e pegou o meu livro. Uma das amigas apontou para mim: “Ela é a autora”. A moça sorriu brevemente, disse nada. Leu a orelha por uns segundos e decretou: “Vou levar”. Minha mãe, escondidinha atrás da cena, assistiu, maravilhada, ao momento de glória de uma escritora desconhecida. Correu a contar.
Autografei o livro da moça, ofereci marcadores de página, agradeci a preferência, ela fez o PIX e foi embora. Podia ter sido apenas mais uma venda de livro, o que tem de mais? Eu conto: a primeira vez num evento gigante, o primeiro romance, a mãe olhando. É isso! Isso é bom demais!
Valeu, moça! Tomara que você tenha gostado da história que escrevi. Ela foi construída com carinho e uma vida de páginas engavetadas até chegar o tempo da coragem de iluminá-las. Falamos de você no almoço de domingo lá em casa, e eu te agradeci de novo pela escolha.
Valeu, FLIP. Ano que vem tem mais.

Elaine é carioca, leitora voraz, administradora, produtora editorial, escritora e revisora literária. Autora de três livros de contos e um romance, possui dezenas de textos espalhados por coletâneas e revistas. Mantém um IG literário, é colunista na Revista Mormaço, editora-assistente na Caravana, umas das coordenadoras do Coletivo Escreviventes e ainda conversa com o mar.
10 respostas em “A FLIP, os encontros, minha mãe e o almoço de domingo”
Lindo relato, belíssimo texto, você conseguiu transmitir cada brilho no olhar, cada pulsação do coração, cada sorriso nervoso até que a leitora seja capturada por sua obra (eu ia escrever pagamento, mas acho que isso é o que menos importa nesse momento). Parabéns Elaine te desejo muito sucesso, um santo e abençoado Natal a você e sua família.
Que emoção, Elaine!
Parece que andei nessas pedras com você! Muito sucesso em todas as feiras, em todas as Flips, em todas as livrarias.
devem ter sido dias incríveis!
Dividimos a mesma mãe e os mesmos almoços de domingo. Dividimos tantas outras coisas… Inclusive um amor imenso e uma admiração gigantesca.
Amo seus textos. Sempre vou amar!
Amo quando escreve sobre nossa família, minha irmã ❤️
Me emocionei e me identifiquei com sua crônica. Foi minha primeira FLIP, primeiro livro lançado na FLIP, meu primeiro contato em tempo real com as Escreviventes e meus dois filhos estavam ao meu lado. Que venham muitas outras FLIPs!
Parabéns Elaine e sucesso com seu livro 🙂
Emocionante, amiga! Que coisa boa: Li este texto ouvindo sua voz, você já mora aqui na minha cabeça. Sucesso pra sua carreira!
Monique, muito obrigada pelo apoio e carinho de sempre. Você é muito importante nessa caminhada! Beijocas
Orgulhosa de você minha filha, de tantas coisas bonitas que vc escreveu.
Que texto lindo lindo expressando tudo que sentiu na sua estréia em Paraty.
A primeira Flip de muitas que virão.Parabens!
Mamãe orgulhosa 💞
Que momento tocante ver que conseguiu chegar lá depois de uma longa caminhada nesta estrada chamada vida.
Quem sabe um dia possa ter esse mesmo sentimento que tu tivestes naquela Feira de Paraty ao ver meu primeiro livro solo em mãos.
Como sempre defendo, o legado que a gente deixa pras futuras gerações é tudo que temos.
Espero que se esse sonho que alimento se tornar realidade, a gente possa se encontrar.
Um grande abraço.
Olá, Marcio! Obrigada pelas palavras gentis.
Torço para que você tenha logo seu livro em mãos, é uma sensação única cada vez que se repete. E a contradição (única / repetida) é proposital, para que nos lembremos que enquanto parecer a primeira vez, valerá a pena escrever nesse país!
Um grande abraço.
Elaine.