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Me apaixonei pelos brasileiros

Passei a ler os brasileiros. Isso pode não parecer nada para você. Talvez você seja uma pessoa muito fã da literatura brasileira e essa minha afirmação não faça sentido. É até vergonhoso eu dizer que não estava acostumado a ler os brasileiros. 

Mas, na verdade, eu não estava acostumado a ler os clássicos, além da Lygia Fagundes Telles, eu estava lendo apenas autores independentes e correndo para a literatura americana.

No máximo que cheguei aqui na América do Sul, fui ficando na Argentina e dando uns pulinhos no Chile e nada mais.

Recentemente, li o Fernando Sabino. Um amigo disse que eu poderia me identificar com ele, então dei uma olhada em seu trabalho e viciei. Como uma criança que experimenta coca-cola pela primeira vez. Foi só uma picadinha e eu já queria esquentar a colher novamente.

Quando vi estava comprando livros do Veríssimo. Quando vi estava buscando entrevistas e tentando encontrar tudo que eu podia de cada um. Para falar sério, o Sabino e o Veríssimo são as pessoas que mais aparecem nas minhas noites literárias. Sento na cama e fico pensando em algum motivo para eu não ter ido até eles antes.

Todo embasbacado pela literatura americana, vendo toda aquela cultura patriota, onde os alienígenas só sabem atacar a casa branca, ainda bem, pois o resto do mundo pode ficar tranquilo.

Não estou dizendo que uma literatura é melhor que a outra. Só que consigo sentir uma diferença quando leio uma à outra. Você poderia dizer que é por conta do tom de voz do autor, eu poderia dizer que é por conta da nossa bagagem cultural. 

No entanto, os autores contemporâneos brasileiros, os que costumo acompanhar, tem um certo gostinho americano, não tem essa bossa que os clássicos conseguem trazer.

Falo por mim mesmo, após passar alguns dias lendo o Veríssimo decidi reler alguns contos meus e percebi que essa tal de brasilidade dançou bem longe dos meus textos, só faltava eu ter um personagem chamado Joe — e na real tenho, tem coisa mais americana que um Joe? Sim, um John. 

Enquanto estava focado estudando apaixonado pelo gingado brasileiro, decidi ir mais fundo e encontrei com a Clarisse e seus textos cheio de força, diferente dos outros dois, ela não trazia um humor, mas ainda assim eu sentia que estava no Brasil. Um Brasil com frutas na cabeça. Um Brasil de samba e todo aquele esteriótipo que a gente pode ver os gringos falando.

Ler os brasileiros, meio que atrasado, foi como parar de ouvir garota de Ipanema no elevador e começar a ouvir ela de verdade, com letra, a música original, não aquela que toca no telemarketing cheia de saxofone e chiado.

Descobri que a crônica é um gênero puramente brasileiro. Então foi aí que as coisas começaram a ficar mais sérias. A Amazon agora coloca em suas indicações apenas livros de crônicas. Fui do Lucão pro Gregório, do Gregório pro Prata, achei mais sites de cronistas independentes, descobri as crônicas do jornal. Fui de uma infância do nordeste para uma tarde aleatória no centro de alguma cidadezinha do interior do paraná.

Descobri que diferente da ficção, a crônica é mais profunda, ela vem do fundo, mesmo que tenha um pouquinho de ficção. 

Estou conhecendo o Brasil nos textos. Textos lá dos anos 60, um Brasil que nem existe mais, e reconhecendo o atual Brasil pelos textos dessas crônicas que estou viciado.

Amarro o elástico no braço. Veríssimo diz que ficará tudo bem. Sabino faz alguma piada sobre aquilo e a Lygia me oferece uma xícara de café antes de sair pro baile.

5 respostas em “Me apaixonei pelos brasileiros”

Demais! Também encontro meu país, minha cultura e a mim mesmo navegando pela arte dos cronistas brasileiros. Obrigado pelo texto, Maicon!

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