Durante uma consulta de rotina com a ginecologista, a doutora me disse que eu não sou mais jovem e que meus 34 anos são a última chance de decidir se vou ser mãe ou não.
Ela me mandou fazer cerca de 23 exames de sangue e me fez prometer que faria sexo entre os dias 12 e 18 após meu período menstrual e que tomaria o famoso ácido fólico por três meses para fortalecer meu sistema reprodutor e prepará-lo para a gravidez.
Ela também deu a entender que vou sofrer de dores nas costas durante a gravidez, mas não quis dar muita ênfase ao assunto, talvez para não me predispor ou para não me assustar, mas sei que vou sofrer.
Estou com uma pequena hérnia de disco que no ano passado me deixou de cama por uma semana e com fortes dores por meses, certamente o peso do corpo de outro ser humano dentro de mim forçará minhas costas fracas, que mal conseguem suportar meus seios e que permanece reclamando de dores concentradas no começo da coluna vertebral, que me puxam para a cama e batem como um coração bombeando sangue de dor.
Enfim, saí do consultório ginecológico, empolgada para contar tudo para meu marido quem não conseguiu participar da consulta pelas restrições do Covid-19. Fomos à farmácia sonhando com uma filha ou filho, começamos a pensar em nomes, na escola que iríamos inscrever ele, na logística de ser pais.
Fomos à farmácia, compramos as vitaminas, fomos para casa, deixamos elas em um local visível para lembrar de tomar todos os dias, sentamos na frente da televisão para assistir ao noticiário. No jornal passaram uma reportagem sobre estudos sobre a gravidade de Covid em mulheres grávidas, sobre a possibilidade de morte da mãe e do bebê que contrai Covid e depois mostraram histórias de pais que estão criando seus filhos sozinhos, pois a mãe morreu no parto por Coronavírus, então ficamos em um silêncio constrangedor tentando ignorar todas essas informações.
Depois de 20 dias tomando vitaminas, em um determinado dia, tomando café da manhã às seis da manhã na mesa da cozinha, voltamos à questão dos filhos e como este mundo não está tomando o rumo que não gostaríamos para eles, e começamos a sonhar sobre as viagens que queremos fazer antes dos 40, com umas férias visitando museus em Nova York e mergulhando em diferentes partes do mundo.
Olhamos um para o outro e com um olhar cumprisse dizemos ao mesmo tempo: “não é hora de ter filhos” e eu acrescentei: “e talvez nunca seja”, então decidimos continuar sonhando com os filhos que nunca teremos e planejando nossas próximas férias.
Daniela Echeverri nasceu na Colômbia em 1987, onde se formou como advogada. Mora no Brasil desde 2013 e trabalha com negócios internacionais no interior de São Paulo.
Apaixonada pela fotografia, viagens, histórias e tudo que desperte a criatividade