Não é preciso percorrer muitos quarteirões na cidade de São Paulo para perceber o quanto a desigualdade social é uma questão complicada e um desafio político clamando por solução.
Foi nesse cenário de miséria, com moradores em situação de rua, que ouvi um comentário do motorista de carro por aplicativo que me levava ao meu destino. Vou chamá-lo de Abel. Ele afirmou ser favorável aos benefícios sociais, desde que oferecessem cursos preparatórios que profissionalizassem as pessoas em vulnerabilidade.
Sem discutir a questão da meritocracia, a proposta de Abel parte do princípio de que aquelas pessoas não possuem especialização. Embora, o cenário tenha se agravado na pandemia, quando o índice de desemprego subiu muito.
Questionei se havia um curso profissional que com certeza as colocaria de volta ao mercado de trabalho.
Profissionais de diversas áreas exercem a função de motorista de aplicativo por falta de oportunidade em sua área. Optaram por esse trabalho pela possibilidade em exercê-lo, mas o consideram provisório e instável.
Agências bancárias foram fechadas porque se tornaram dispensáveis com os bancos digitais em aplicativos no celular. Vários profissionais foram demitidos.
Nos supermercados, funciona o autoatendimento, o comprador passa o produto pelo leitor de código de barras. Em algumas lojas, basta colocar suas compras numa bandeja para aparecer suas mercadorias na tela do computador, sem a necessidade do operador de caixa.
As residências são chamadas de casas inteligentes, onde a manutenção é feita por robôs. Na medicina, há casos de cirurgias feitas por inteligência artificial e outros tantos recursos à disposição, em diversos setores.
A inteligência artificial caminha a passos largos, trazendo modificação significativa no modo como enxergamos as relações de trabalho.
Seria excelente se os benefícios não se restringissem a quem possa pagar por eles, pois sabemos que a riqueza está concentrada nas mãos de poucos.
O aplicativo informou que alcancei o meu destino. Ainda não faço ideia de qual será a solução.
Paulistana, graduada em jornalismo. Autora do livro Falhou o Som, com poesias, contos e crônicas escritos durante o confinamento da Covid 19. Membro da Academia Independente de Letras. Participação em várias antologias, dentre elas a do Selo OffFlip de 2023 “Nós – textos de autoria feminina”. Autora selecionada para Seminário Internacional de Incentivo à Produção Científica Sobre Direitos Humanos, com o artigo “Masculinidade Tóxica do Brasil e a Violência Psicológica: Como Desconstruir o Machismo Estrutural?” Autora do livro infantojuvenil “O Sonho de Téo”, abordando os temas amizade, preconceito e realização de sonhos, a ser publicado pela Editora Labrador, em fevereiro de 2024. Integrante do movimento “Vozes Femininas” com apresentações de saraus na Livraria Na Nuvem, em São Paulo.
6 respostas em “Você alcançou o seu destino”
Edna, o Abel parece ser favorável à teoria de que não devemos dar o peixe, mas sim ensinar a pescar. A questão é como ensinar a pescar num rio onde não há peixe.
Amei sua crônica.
É isso, Neuceli.
Obrigada por sua leitura.
Abraços
Edna, me identifiquei com suas reflexões. A tecnologia avança a anos luz e os benefícios dela só chegam para poucos. Gostaria de ter a resposta, mas não tenho. Só fico com as dúvidas.
Sim, Maribel, temos muitas dúvidas.
Obrigada por sua leitura.
Bem, Edna, acho que devemos sair um pouco de nossas “bolhas” e entender a realidade que nos cerca. Digo isso depois de receber uma boa lição de como compreender e tentar de alguma maneira ajudar essas pessoas a crescer não só profissionalmente como também ter um pouco de dignidade.
O problema é que o Brasil ainda é um dos países com maior concentração de renda do mundo e a diferença é terrível em todos os aspectos.
Ainda por cima a tecnologia se torna um ponto nevrálgico com relação a empregos. Quanto mais facilidades temos, menos pessoas trabalham e mais famílias ficam sem perspectivas de crescimento.
Enquanto não houver um abrandamento desse abismo, a desigualdade só crescerá.
E mais famílias terão que se preparar pra enfrentar as intempéries do clima implacável. Está chovendo nesse momento aqui na minha cidade e grande parte das pessoas estão rezando pra não perder o pouco que ainda tem.
É isso. Chegamos ao destino mas a solução não depende só da gente. A única coisa que podemos fazer é cobrar mais empenho dos gestores e ajudar quando puder.
Um grande abraço e até a próxima.
Sim, muito triste.
Obrigada por sua leitura, Mario
Abraço