“Em cima do mundo manter-me-ei de pé como uma fera acossada.” – Vladimir Maiakovski.
Um vulcão-escudo, de acordo com os vulcanologistas, é um vulcão que se expande conforme suas lavas que após derramadas, se solidificam. Penso que há muito o que aprender com aquilo que aterroriza.
Quando se está adormecido, não se pensa nos momentos em que não estava, mas as lavas que saíram de ti servem como lembranças para aqueles que as viram refletir, ou você queima e usa isso como diriam os vulcanologistas? O que não é confortável acontece invadindo ou sendo convidado, ou provocado, não importa, acontece e este é o custo por estar acordado. Em ação. Em erupção.
A tristeza, a raiva, a alegria são todas magmas. Magmas pressionadas virando lavas para mostrarem que há vida ali, onde se encontram em junção com o que está aparentemente silenciado, desacordado, imóvel, intocável.
Eu penso na matemática vivida nos meus dias dormidos. Nesses dias não conscientemente ativos, imagino que os números não são meus inimigos. Que dormimos um terço da vida, você sabia, não sabia? Nos sonhos há uma versão minha sem medidas, nos sonhos ela estreia estagnada sendo cobertura e pilastra, sempre resistente ao calor pungente. E na morte opaca os figos diriam que a queda não é nada. As analogias morrem sem serem ressuscitadas, porém suas pegadas atormentam Sansão sem visão sendo piada. As sílabas e suas rimas juntas não são muito além de embelezamento ao cérebro que ama uma falsa simetria.
O questionamento é impiedoso, é diário. Valeu a pena arriscar o que decidiu deixar? Os riscos já não são uma reposta definitiva? Deixar algumas coisas para depois buscar… já não diz, já não somam suas determinadas importâncias? Ou falta delas. O depois pode se tornar nunca mais. Quando se encontra nas beiras, você pensa num mundo sem fronteiras? Eu penso, eu penso num mundo dos sonhos. Onde ser clandestino não é destino. No desfalecer do sensacionalismo da afirmação de uma constante fatal, não há esse tipo de preocupação (nesse sonho).
Talvez eu devesse voltar a rimar para você compreender. Os ventos nos tragam, consegue ver? Estamos nas cordas vocais de um vespeiro, cegos e sufocando nós mesmos. Somos as vespas não identificadas, somos quem somos pelo o que não somos. Somos a preferência na abundância à lidar com ausências. Somos todas as metáforas. Sei que comentam e reparam minha transparência assim que bato minhas asas, porém ainda não veem nada. Sua própria expressão enrugada é tudo que vai dar de cara quando pensar em me procurar desejando encontrar alguém aberto para lutar. Não luto mais. Não pela compreensão. Há muitas guerras, eu só compareço naquelas que não me atenderão com velas. Minhas asas não batem para direcionamentos sem chãos.
Os ventos nos tragam. Sem nicotina, viciamos os dias em nossa rotina. Todos nesse planeta jamais se repetiram e essas são as pequenas casinhas da alegria. O que são os lares? Os rios que correm abaixo dessa metrópole assassina? Guarda alguma água para mim. Todo esse asfalto, corre risco de explodir? Estou com sede e não sei se concordo comigo. Como vão ler e entender? A única coisa que posso mudar é se vão ou não ver todo esse dizer.
Inacreditável, inaceitável, infelizmente, ins abrem as frentes de todas as frases, de todos esses dizeres. Sons matinais de pombos e um sol babando no planeta entre sussurros ameaçadores direcionados à corpos que derretem, eu diria: são os dias. Há um cão em cada esquina, haverão sete gatinhos para cada gata, e a vida – surpreendentemente, virará um fardo. Haverão frases difíceis à serem ditas, haverão vômitos entalados, haverão caixões descendo e subindo acompanhados de rostos abatidos. Eu diria: são os dias. Mas eu sou o que chamam de narradora-não-confiável, meu otimismo nunca alimentou meu corpo e minha mente está faminta pelo o que afeta nos lugares que ela me carrega. É assim que se finaliza? Essa é uma eterna pesquisa.

escrevo de dentro, por fora e entre as limiares de pedras (da selva); “Entre estas árvores que inventei e que não são árvores, estou eu.” – R.B
viva há pouco mais de sete mil dias grunhindo de são paulo, sp, brasil.