Numa crônica publicada no Jornal do Brasil há vinte e cinco anos, Luis Fernando Verissimo comentou a carta de uma leitora segundo a qual o sufixo eiro seria pouco nobre. Na opinião dela, a terminação eiro indicaria atividades de pouco status, como coveiro, muambeiro, curandeiro, lixeiro e carcereiro.
Sendo nobre ou não, o eiro tem ajudado a formar muitas palavras nos últimos tempos. Com as redes sociais e aplicativos, por exemplo, surgiram os orkuteiros, blogueiros, twitteiros e zapeiros. E biscoiteiros ganhou um novo sentido. Quem sai de casa para dar um passeio, uma volta, um rolé virou… rolezeiro. Quem vai a festas, shows e baladas se tornou… baladeiro. E o candidato a exames, provas e concursos passou a ser… concurseiro.
O noticiário está cheio de eiros: empreiteiros, grileiros, propineiros, bicheiros, garimpeiros, doleiros, mensaleiros, lavajateiros, madeireiros… Outro apelido terminado em eiro surgiu numa Copa do Mundo, quando um marqueteiro batizou o torcedor da Seleção que batia no peito com muito orgulho, com muito amor: brahmeiro. Anos depois apareceu nas ruas e janelas outro personagem com a mesma camisa verde-amarela e o mesmo ufanismo pela pátria amada Brasil. Recebeu um apelido com a mesma terminação: paneleiro; uma evolução – ou não – do brahmeiro.
Nem todo eiro é o que parece ser: não é preciso, por exemplo, criar perus para ser perueiro, nem gostar de chiclete para ser chicleteiro e muito menos ser fã de Cartola para ser cartoleiro. Falando em música, me lembrei do Pedro pedreiro penseiro de Chico Buarque e do praieiro guerreiro solteiro de uma banda de axé. Aliás, quem curte axé é axezeiro. Quem gosta de rock, funk e pagode também tem apelido terminado em eiro, mas os fãs de música sertaneja não. Sinal de que o idioma, por mais eclético que seja, não dá conta de tudo.
Em compensação, temos muitos outros eiros por aí. Nas viagens de farofeiros, mochileiros e romeiros, nos times de caneleiros, pipoqueiros e frangueiros, na tradição de congadeiros, reinadeiros e seresteiros, no vício de craqueiros, maconheiros e cachaceiros e nos encontros de jipeiros, fusqueiros e harleiros.
O eiro às vezes faz toda a diferença, pois veja que há motociclistas e motoqueiros, assim como existem bombados e bombeiros, mineradores e mineiros, chavosos e chaveiros, calhordas e calheiros, metalúrgicos e metaleiros e, como bem lembrou Verissimo em sua crônica, políticos e politiqueiros. A propósito, existem cronistas, como ele, e autores de textos como esse, meros croniqueiros.

Autor do livro Cronicando.
Protetor de cachorros e gatos.
Torcedor do Independente.
2 respostas em “Eiros”
De croniqueiro para croniqueiro, gostei de sua história por inteiro. E assim vivemos pulando de bueiro em bueiro com a escrita como nosso eterno companheiro.
E com a criatividade que temos como todo bom brasileiro.
Até a próxima, guerreiro.
Olá Mario, obrigado pela leitura. Dia desses fiquei sabendo da existência de outro eiro: os ladrões que roubam carros para comercializar as peças usadas são conhecidos como “desmancheiros”. É eiro pra dar e vender.