Eu já fui questionada por leitores sobre alguns textos de ficção que escrevi. Queriam saber se as histórias eram criações ou descreviam fatos da minha vida particular. Esse questionamento é comum no universo da literatura ficcional feminina. Muitas escritoras recebem indagações semelhantes. A informação de que se trata de uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida é coincidência, não é considerada.
Fica a dúvida se era um elogio à escrita por ser uma narrativa muito crível ou um descrédito à criatividade. Afinal, para descrever bem uma situação, é preciso ter vivido aquela história? Acredito que não.
Posso pensar, ainda, que seja apenas curiosidade sobre a vida alheia, pois o interesse cresce de acordo com intensidade do fato, quanto mais inusitado, mais atrativo. Já recebi perguntas bem invasivas. Entretanto, quando escrevo sobre a morte, ninguém me pergunta se já passei por essa experiência. Embora, pareça óbvio que estou viva, é possível ter tal dúvida.
Apesar de enfrentar perguntas desagradáveis, ainda, prefiro o questionamento a não encontrar leitores no caminho.
Quando comecei na literatura, adotei um pseudônimo, pretendia separar a escritora da minha pessoa. Acreditava que isso me daria a possibilidade de escrever sem a censura dos mais próximos. Não funcionou. Deixei de me importar com isso e passei a assumir a voz da escritora. Foi, literalmente, uma virada de página na minha vida.
A literatura ficcional não tem compromisso nenhum com a realidade, mas tem comprometimento com o leitor. É preciso conquistá-lo, criar identidade com o personagem, prender a sua atenção até a última página do livro. O que está cada vez mais difícil, diante de tantas opções tecnológicas. É uma pena.
A literatura faz pensar, cria senso crítico, melhora o vocabulário e o cognitivo, entre vários outros benefícios. É imprescindível para a formação dos mais jovens, das crianças, mas o que vemos são mais celulares e jogos digitais nas mãos dos pequenos.
Eu não sou contra esses joguinhos de aplicativos, mas pelo seu caráter repetitivo creio que enfraquece o cérebro, portanto o seu uso demasiado é pernicioso.
Que haja mais livros, mais bibliotecas e livrarias espalhadas por aí. É preciso mais incentivo à literatura.
Trabalhar com escrita é um ato de resiliência.

Paulistana, graduada em jornalismo. Autora do livro Falhou o Som, com poesias, contos e crônicas escritos durante o confinamento da Covid 19. Membro da Academia Independente de Letras. Participação em várias antologias, dentre elas a do Selo OffFlip de 2023 “Nós – textos de autoria feminina”. Autora selecionada para Seminário Internacional de Incentivo à Produção Científica Sobre Direitos Humanos, com o artigo “Masculinidade Tóxica do Brasil e a Violência Psicológica: Como Desconstruir o Machismo Estrutural?” Autora do livro infantojuvenil “O Sonho de Téo”, abordando os temas amizade, preconceito e realização de sonhos, a ser publicado pela Editora Labrador, em fevereiro de 2024. Integrante do movimento “Vozes Femininas” com apresentações de saraus na Livraria Na Nuvem, em São Paulo.
4 respostas em “Ato de Resiliência”
Concordo plenamente, Edna, com o ato de incentivar a leitura em todos os gêneros. É a missão do escritor.
Embora a batalha é árdua, não podemos desistir disso. É nosso dever escrever com prazer imenso.
Muitos me perguntam a mesma coisa. O segredo de escrever está em duas coisas: ler e observar.
Além de concatenar-se com a cultura geral, obviamente.
É por isso que nunca deixaremos de escrever. Parafraseando um certo personagem de um desenho que gosto muito: ‘Enquanto existir um leitor ou leitora fiel, o escritor viverá.’
É isso, Edna. Um grande abraço e até a próxima.
P.S: Estou com meu teclado pifado e usei uma gambiarra virtual pra fazer este comentário. Aguardo um teclado novo.
Obrigada, Mario, por sua leitura e comentário, mesmo estando sem teclado e usando gambiarra virtual.
Longa vida aos escritores, pois eles são essenciais.
Abraços.
Realmente, Edna, é preciso ser bastante resiliente para trabalhar com a escrita, principalmente nesses tempos de IA e numa terra que a literatura não é valorizada. Contudo, o resiliente não se deixa desanimar. Quem venham muitos outros textos para despertar os adormecidos!
Parabéns pela crônica.
Obrigada querida por sua leitura.
Estamos juntas nessa jornada.
Bjos