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Ato de Resiliência

Eu já fui questionada por leitores sobre alguns textos de ficção que escrevi. Queriam saber se as histórias eram criações ou descreviam fatos da minha vida particular. Esse questionamento é comum no universo da literatura ficcional feminina. Muitas escritoras recebem indagações semelhantes. A informação de que se trata de uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida é coincidência, não é considerada.

Fica a dúvida se era um elogio à escrita por ser uma narrativa muito crível ou um descrédito à criatividade. Afinal, para descrever bem uma situação, é preciso ter vivido aquela história? Acredito que não.

Posso pensar, ainda, que seja apenas curiosidade sobre a vida alheia, pois o interesse cresce de acordo com intensidade do fato, quanto mais inusitado, mais atrativo. Já recebi perguntas bem invasivas. Entretanto, quando escrevo sobre a morte, ninguém me pergunta se já passei por essa experiência. Embora, pareça óbvio que estou viva, é possível ter tal dúvida.

Apesar de enfrentar perguntas desagradáveis, ainda, prefiro o questionamento a não encontrar leitores no caminho.

Quando comecei na literatura, adotei um pseudônimo, pretendia separar a escritora da minha pessoa. Acreditava que isso me daria a possibilidade de escrever sem a censura dos mais próximos. Não funcionou. Deixei de me importar com isso e passei a assumir a voz da escritora. Foi, literalmente, uma virada de página na minha vida.

A literatura ficcional não tem compromisso nenhum com a realidade, mas tem comprometimento com o leitor. É preciso conquistá-lo, criar identidade com o personagem, prender a sua atenção até a última página do livro. O que está cada vez mais difícil, diante de tantas opções tecnológicas. É uma pena.

A literatura faz pensar, cria senso crítico, melhora o vocabulário e o cognitivo, entre vários outros benefícios. É imprescindível para a formação dos mais jovens, das crianças, mas o que vemos são mais celulares e jogos digitais nas mãos dos pequenos.

Eu não sou contra esses joguinhos de aplicativos, mas pelo seu caráter repetitivo creio que enfraquece o cérebro, portanto o seu uso demasiado é pernicioso.

Que haja mais livros, mais bibliotecas e livrarias espalhadas por aí. É preciso mais incentivo à literatura.

Trabalhar com escrita é um ato de resiliência.

4 respostas em “Ato de Resiliência”

Concordo plenamente, Edna, com o ato de incentivar a leitura em todos os gêneros. É a missão do escritor.

Embora a batalha é árdua, não podemos desistir disso. É nosso dever escrever com prazer imenso.

Muitos me perguntam a mesma coisa. O segredo de escrever está em duas coisas: ler e observar.

Além de concatenar-se com a cultura geral, obviamente.

É por isso que nunca deixaremos de escrever. Parafraseando um certo personagem de um desenho que gosto muito: ‘Enquanto existir um leitor ou leitora fiel, o escritor viverá.’

É isso, Edna. Um grande abraço e até a próxima.

P.S: Estou com meu teclado pifado e usei uma gambiarra virtual pra fazer este comentário. Aguardo um teclado novo.

Obrigada, Mario, por sua leitura e comentário, mesmo estando sem teclado e usando gambiarra virtual.
Longa vida aos escritores, pois eles são essenciais.
Abraços.

Realmente, Edna, é preciso ser bastante resiliente para trabalhar com a escrita, principalmente nesses tempos de IA e numa terra que a literatura não é valorizada. Contudo, o resiliente não se deixa desanimar. Quem venham muitos outros textos para despertar os adormecidos!
Parabéns pela crônica.

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