Sério, eu não penso na perspectiva de contar a história de Santo Antônio, São João e São Pedro pela “lente” da Astrologia. Não sou astróloga, não entendo de conjunções astrais, planetas retrógrados e céus do dia do nascimento. Peço licença, uma licença poética para imaginar só um pouquinho, misturar pesquisa amadora com maturidade literária. Exercitar invenção e verdade… Licença aí…
Que grata surpresa saber mais sobre o meu querido Santo Antônio. O “querido” é de verdade. Aprendi a admirar o ser humano que foi Antônio de Lisboa, rezando a trezena do Santo, de 1º a 13 de junho, com minha mãe, todos os anos, até a morte dela em 2020. No meio da reza, havia trechos que narravam a vida dele, nascido a15 de agosto de 1195 (século XII d.C.), Fernando de Bulhões, até a sua morte em13 de junho de 1231, com 35 anos, em Pádua, Itália.
Fiquei mais fã ainda, ao descobrir que Santo Antônio era do signo de Leão, terceiro decanato! O que isso significa? Eu também queria saber! Descobri que para cada signo há uma contagem que divide três períodos conforme o nascimento. O 3º decanato de Leão, que aqui nos interessa, por exemplo, vai de 12 a 22 de agosto e é regido pelo planeta Marte.
Quando comecei a ler sobre os nascidos de Leão do terceiro decanato, aprendi que os regentes dos decanatos de cada signo são os planetas que regem os signos do seu elemento. O melhor foi saber que os nascidos no terceiro decanato do signo de Leão, recebem influência da mistura da energia de leão com a energia do signo anterior de mesmo elemento fogo, a saber, Áries. No caso de Leão, que é um signo do Elemento Fogo, o regente do 3º decanato é Marte (regente de Áries). Entenderam? Eu também não. Não importa! Só importa que isso é muito bom, porque eu sou do signo de Áries e os nascidos sobre o signo de Áries não deixam nada para depois.
Bem que eu sentia uma atitude típica de um ariano aquela passagem em que Santo Antônio tentava pregar para as pessoas na cidade de Rímini na Itália, e elas passavam sem lhe dar ouvidos ou a menor atenção. Não era o primeiro dia que o santo se dirigia aos chamados hereges da região. Certamente, como bom leonino, sob a influência do elemento fogo e seu signo regente Áries, deu um basta aos ouvidos surdos e corações duros. Desceu até a beira mar, onde o rio desaguava no mar e começou a falar aos peixes, mais ou menos assim: “Ouvi a palavra de Deus, ó peixes do mar e do rio, visto que os hereges infiéis se recusam a fazê-lo”. O resultado dessa atitude radical, surpreendente, não vou repetir aqui, todo o mundo sabe: ficou para a história como um dos milagres mais emblemáticos de Santo Antônio.
São João Batista nasceu em 24 de junho (século I a.C. 28–30) e era do signo de Câncer, primeiro decanato. Sabem o que isso significa? Basta dizer que São João se encaixa perfeitamente no perfil de seu signo solar. Muito ligado à família, (era primo de Jesus) demonstra uma enorme capacidade de empatia, sempre pensando nos outros (anunciava a vinda de Jesus) e pregava o arrependimento dos pecados, olhando para o presente para construir o futuro. Mesmo sendo conhecidos por sua sensibilidade, os cancerianos também têm uma imaginação fértil e sabem liderar sem ser grosseiros. Talvez por isso, São João Batista tenha inventado o batismo como caminho para a purificação.
É claro que a astrologia não existia nessa época, mas será que João Batista teria escapado da ira de Salomé, que influenciada por sua mãe, pediu a cabeça dele numa bandeja? E se ele tivesse a chance de dar uma olhada nas previsões para o seu signo, naquele tempo?
Por fim, chegamos ao terceiro santo do mês de junho, São Pedro, nascido em 29 de junho (século I. a.C. 67). Também do signo de Câncer, primeiro decanato, regido pela Lua. O elemento é Água, que torna os cancerianos emotivos, protetores e criativos. São Pedro era viúvo e, isso combinava com o
universo da pessoa canceriana, que é sempre povoado por uma forte conexão com o passado. Essas características devem ter pesado para que São Pedro fosse o escolhido para guardar as chaves dos Céu, fundar e ser o pai da Igreja católica.
Nem a literatura, nem a astrologia, é uma ciência exata. Digamos que ambas, cada uma a sua maneira, usa as ciências para produzir conhecimento. Stephen Hawking, no livro O Universo na Casca de Noz, chamou a atenção para um fato, dizendo que os astrólogos, sabiamente, fazem previsões tão abertas, que fica difícil não se identificar com elas, não é verdade? E ainda tem uma coisa para pensarmos: será que toda vez que “encaixamos” as pessoas em perfis e características tão específicas, dizendo que “só podem ser do signo de peixes/leão/virgem…”, não estamos, de alguma forma, fazendo algum tipo de classificação prévia?
O que? Como? Foi o que acabei de fazer? Ah, “isso é típico de uma ariana com ascendente em libra”, diria uma amiga…

NADIA VIRGINIA BARBOSA CARNEIRO é baiana da Cidade Baixa de Salvador, licenciada em Filosofia pela UFBA, mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Professora universitária há 30 anos, tendo atuado na UFBA, UEFS e desde 2015, na UNEB – Universidade do Estado da Bahia, Campus I Salvador, nas áreas de Filosofia, Metodologia da Pesquisa, Oficina de Linguagem audiovisual e Estética da Comunicação para o curso de graduação em Relações Públicas. Já publiquei mais de uma dúzia de livros de poemas, participei de coletâneas diversas e caminho para o terceiro livro de crônicas.
Universos de interesse: Arte, Cidade, Imagem, Fotografia, Literatura, Poéticas e imaginário urbanos.
10 respostas em “Os três santos de junho e o zodíaco”
Ah, Nádia, adorei! Sempre me questiono sobre essa ideia dos signos. Imaginar que existem 12 pessoas-tipo, com características em comum, no mundo, é uma grande viagem para uma pessoa como eu… de aquário kkk
Bjs,
Carina
Kkkkk É por aí mesmo, Carina!! Mesmo não crendo, não custa dar o “benefício da dúvida” a Astrologia, não é? Rsss. Um beijo!
Fiquei aqui pensando, como a Nádia fez esse link entre os
três santos de juninos e a astrologia? Deve ser coisa de ariana mesmo rsrsr
Adorei o bom humor da crônica. Parabéns 🙂
KKKK Ahh, Maribel, é que colaboro na TV Universitária da UNEB, onde sou docente há mais de 30 anos. Resolvi sugerir pequenos vídeos imaginando como seria os três santos de junho Santo Antônio, São João e São Pedro se vivessem hoje em dia. Rsss Os vídeos ficaram muito legais! Aí me ocorreu “checar” de que signo eles eram, buscando uma outra “trilha” que leva para o mesmo fim. Me diverti muito pensando/imaginando e escrevendo. Rsss Obrigada!! Um beijo!
Saúdo com grande alegria uma amiga de trezena, Deus a abençoe e tenha sua querida mãezinha em bom lugar.
Muito, muito obrigada!! Amémmmm. Um abraço!
Oi, Nádia. Antes de mais nada, desculpe pelo atraso. É que estou as voltas com algumas crônicas e contos que estão no prelo e pouco a pouco, vou tirando o atraso das histórias.
Gostei muito da tua conexão com os três famosos santos e o zodíaco (alias, somos dois a ser arianos com ascendente em libra. Sempre agindo, mas com justiça e pertinência).
Principalmente pelas biografias que colocou na tua crônica destes santos. As vezes, são episódios que a historiografia oficial não conta. E é isso que faz a história ser legal.
Como disse antes, tudo se resume ao contexto do nosso redor. O meu tripé favorito (esporte, história e literatura) faz parte de todo um contexto deste maravilhoso planeta chamado Terra.
E o estudo dos signos são bem maravilhosos. Especialmente o do Chinês que descobri que meu signo é o Dragão e meu elemento é o Fogo. Ou seja, nada muito diferente do ariano.
É isso, Nádia. Um grande abraço e até a próxima.
Querido, você sempre trazendo seus comentários gentis! Eu economizei no recorte das histórias dos três santos de junho para que a crônica não ficasse muito longa. Mas tem muita curiosidade legal sobre eles. Talvez numa crônica II. Rssss Um abraço!
Nádia.
Você escreve muito bem. A cada texto seu, uma surpresa. E sempre boa.
Adorei,
Ohh, obrigada! Fico muito grata. Um beijo!