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Um estudioso dos Ubers

— Olá, senhor! Obrigado por ter parado… nessa chuva fica meio difícil táxi, né?!
— É! Pois é! Sabe como é!

Certas coisas aprendi na pandemia. Essa foi um pouco depois, quando já pude voltar a pegar táxis evitando os ônibus. Sempre me incomodou aquele silêncio no táxi. Eu não sabia se era eu o problema ou se era o taxista que estava emburrado. Analisando isso descobri uma técnica para acabar com o barulhento silêncio. 

— Senhor, qual é o modelo mesmo desse seu carro?
— Ah! É um Sport Cientra X! Versão nooovaaaa!
— É automático?
— É sim! Mas nunca deu problema!

O segredo de conversar no táxi é fazer o motorista falar do carro dele. Quem não teria orgulho do próprio carro sendo taxista? Compara-se com outros modelos, pede-se especificações técnicas, questões um pouco mais elaboradas, como se lá eu soubesse que, por exemplo, o Sierra Hatch tem a marcha automática Power Shift. Pergunto a respeito, comparo, sem nem ter a menor ideia do que seja.

— Mas o Power Shift dá muito problema, não dá?
— Pô, não vou nem te falar! Por isso que você não vê Ecosport rodando na pista…

Daí passo para um próximo passo. Não é perguntar de política não. Ainda hoje é perigoso. Opto por discutir economia: 

— Mas, senhor, me tira uma dúvida. Quantos táxis existem na cidade comparado com os Ubers? (Já fiz essa pergunta para uns vinte taxistas e sempre dá papo.)
— Ah, deixa eu pensar…Acho que uns cem mil táxis na cidade, mas já ouvi que devem existir uns quatrocentos mil Ubers… 
— E Uber não paga imposto, né??
— Nem me fala! Tirando o fato de que eles não têm preparo. E é perigoso, você nunca sabe em quem confiar. É qualquer um que pega um carro e vira Uber, da noite pro dia! E nem tem controle!

Descobri essa tática funciona também no Uber. “Mas que evolução foi o Uber né?!”

2 respostas em “Um estudioso dos Ubers”

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