Acabei de deixar meus sogros no aeroporto. Um pseudo-vento fresco duma noite semi-nublada entra pela fresta da janela do quarto enquanto escrevo. Há um quê de melancolia no ar.
Os últimos trinta dias foram intensos. Eu entreguei meu TCC, entrei de férias, os tios da Carol mudaram-se da Suíça para o Brasil e os pais dela vieram da Itália para o casamento do Hugo — primo da minha esposa. As coisas acontecem tão rápido que não dá nem para ver; de repente, acabam. A gente se despede dos noivos ainda no local de festa e vamos para casa numa espécie de ressaca daquela agitação toda. Dias depois, outras malas estão prontas para outras despedidas.
Eu não gosto de despedidas. Mas não posso falar muito disso. Não só por ser um tema clichê, mas principalmente porque é uma afronta à família da minha esposa. Eles é que sofreram e sofrem com despedidas há tanto tempo. Vivem meio espalhados pelo mundo, indo e vindo, e precisaram se acostumar com despedidas. Mas é aquela coisa né… acostumam-se, mas choram (quase) toda vez que alguém vai embora.
Meus pais, irmã, a recém-operada Mely (a cachorrinha mais boazinha deste mundo) e meus amigos estão a só duzentos e poucos quilômetros de distância e, mesmo assim, há saudades. E quando nos encontramos, há uma agitação, tudo muito intenso. De repente, fim.
Enquanto pensava sobre o que escrever para este mês aqui no Blog, eu me vi perdido. E, claro, não ia, tão cedo, usar a carta coringa-clichê do “escrever sobre a falta de ter sobre o que escrever”; ah, mas não ia mesmo! Foi quando percebi o cansaço, as indecisões, hesitações… nesses momentos que encerram ciclos, nesses períodos de transição eu fico sempre meio pasmo, meio estático, sem saber o que fazer. Eu travo. Olho para um lado, para o outro: e agora? Ainda restam uns dias de férias, um feriado no meio. Por onde se começa a retomar a rotina?
“Come chocolates, pequena; come chocolates!”. Eu não acho que não haja mais metafísicas no mundo senão chocolates; não acho que as religiões todas não ensinem mais que a confeitaria. Mas tinham uns chocolates na geladeira. Eu abri um, comi, e fiquei pensando que, quando a Carol chegasse, nós poderíamos comer um chocolate, ver uma série, e concluir esse dia. E em breve as coisas iam se ajeitar. A dor de cabeça, o cansaço, as hesitações iam passar e as coisas voltariam ao normal (até que outro momento grandioso — como o casamento do Hugo — apareça, e, provavelmente, novas despedidas o acompanhem).
Parece um bom plano. Em dias de ressaca de despedidas, em noites semi-nubladas e melancólicas, às vezes pouca coisa é o suficiente. Um chocolate, uma série, um texto curto, para deixar tudo ir se ajeitando devagar…

Paulista, formado em Economia, trabalha como escrevente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mora atualmente em Uberlândia/MG com Carolina, sua esposa. Começou a escrever tardiamente, por volta de 2018. Desde então, tem escrito mais a cada ano. Publicou contos, crônicas e poesias em antologias diversas.
Uma resposta em “Sobre ressacas de despedidas”
Pois é, meu amigo. A vida é feita de despedidas e de intensidades. Parafraseando Almir Sater e Renato Teixeira, um dia a gente chega, no outro vai embora e a saudade vira uma estrada longa.
E ainda tendo que comer chocolates, ver séries e escrever crônicas no meio deste calor infernal que vocês estão passando aí onde moram.
Realmente isso é de derreter o cérebro. Uma ressaca de entrar fervendo.
É isso, meu amigo. Um grande abraço.