
Quando eu cheguei no Instagram era tudo mato. Uma rede social de fotos bonitas e de hashtags. Eu adorava postar paisagens, arquitetura, objetos, detalhes do cotidiano. Hoje está tudo mudado e muitas vezes eu me sinto um pouco perdida no que, como, por que e para quem postar. Então tenho desenvolvido uma pesquisa, no campo da antropologia digital, sobre os perfis-tipo que andam por lá. Vou compartilhar alguns resultados iniciais, ressaltando que as classificações ainda não são conclusivas e tudo é passível de reorganização e combinação, bem de acordo com um método antiacadêmico muito rigoroso.
Primeiro destaco a pessoa que é produtora de conteúdo. Ela tem que fazer postagens regulares, normalmente diárias, com dicas e sugestões sobre o tema do perfil. O feed é todo organizado, utilizando mesmo padrão de formas e cores. Dá uma paz de espírito visitar a página. Agora, essa ideia de ter que produzir assunto, em ritmo acelerado, me dá uma certa angústia. Eu normalmente demoro uma eternidade para postar um story sobre o nada, e outra eternidade se tiver que escrever alguma coisa séria.
Mas aí, tem o tipo curador, que poderia me servir. Neste caso, a pessoa não produz o conteúdo, mas pega de outros lugares e disponibiliza ali para você, tudo na mesma página, organizado ou não, sempre seguindo as temáticas preferenciais. Alguns fazem até react, ajudando você a saber como deve reagir ou se comportar diante da situação apresentada. Vocês podem achar que facilita a vida, mas é preciso ter cuidado, porque um react malfeito ou tendencioso é primo da fake news. Eu mesma não tenho saco para essa curadoria, pois me demandaria muito tempo de pesquisa para não repostar coisas equivocadas.
Há então aqueles que são vendedores de produtos ou serviços, ou ainda representantes de alguma marca. Então a página é monotemática. Se a pessoa é manicure (ou nail design, como se costuma chamar hoje em dia), você só vai ver unhas no feed; se é tatuadora, só tatuagens; se está vendendo bijouterias, verá brinquinhos, anéis e colares; e assim por diante. Minha única produção vendável são livros, mas como péssima vendedora, ainda não consegui elaborar nem um perfil de escritora. Quem sabe um dia?
Agora, tem a galera que usa a rede para postagens pessoais. Onde estão, o que estão fazendo, o que gostam de fazer, pessoas com as quais se relacionam, viagens, trabalho, academia. Normalmente são perfis fechados e você só entra só for chegado. Eu, pessoalmente, fico sempre na dúvida sobre o limite da exposição pessoal, já que meu perfil é aberto porque sou também escritora, então o acesso tem que ser mais fácil. Já viram a confusão que é meu Instagram, né? Um pouco de cada coisa e tudo de coisa nenhuma.
Continuando, não posso deixar de fora os influencers, pessoas com milhares de seguidores, capazes de influenciar comportamentos alheios, cujas postagens são normalmente sobre a própria vida e as opiniões pessoais, sejam elas embasadas ou não, sejam elas sérias ou abobrinhas. Podem ser pessoas já conhecidas, como artistas e políticos, ou pessoas que ganharam a fama nas redes.
Ah, e tem os biscoiteiros, o pessoal que gosta de postar para ganhar elogios. Então são muitas fotos de si mesmo no feed, nos stories, vídeos e reels. Dentre esses, tem alguns que biscoitam por biscoitar (afinal, quem não gosta de um bom elogio?) e outros para paquerar.
Por fim, tem os voyeurs. Aquele pessoal do feed zero, que mal posta stories e vê tudo o tempo todo. Está sempre conectado, mas não expõe nada da própria vida, do trabalho, dos amigos, das viagens, da academia. Usa as redes para se atualizar sobre os assuntos do dia, consumir conteúdo, fazer compras e, desconfio, para dar uma bisbilhotada básica na vida alheia. São terríveis, veem tudo pelo buraco da fechadura.
E então, quem é você?
P.S.: Essa pesquisa está em desenvolvimento, então, caso se lembre de algum tipo não listado, favor apontar nos comentários.

Carina Mendes é uma carioca que rodou um pouco por aí e atualmente mora em Cabo Frio/RJ. É arquiteta e urbanista de formação, servidora pública, trabalha na área do patrimônio cultural, é professora universitária. Depois de mestrado e doutorado, decidiu navegar pela escrita criativa. Tem feito cursos, publicado minicontos, contos e crônicas em coletâneas e em seu site.
4 respostas em “Quem é você no Instagram?”
Bem, Carina, eu não pertenço a nenhum desses times porque simplesmente não tenho Instagram pra chamar de meu.
É que prefiro mesmo as enciclopédias clássicas, se é que me entende.
Mas a pesquisa é bem interessante mesmo. O que um Instagram é capaz de fazer uma pessoa a ponto de ser inclusa nessas “tribos” virtuais.
Uma crônica bem legal e divertida.
É isso, Carina. Um grande abraço e até a próxima.
Entendo, Mário. É complicado mesmo. Acabo usando bastante, mas sempre reflito sobre esses limites da exposição. Sigamos! Obrigada pela sua leitura e comentário!
Abs,
Carina
As vizinhas que sentavam em cadeiras de macarrão na calçada correram para que a galera do feed zero pudesse andar.
hahahaha.. por aí, Lícia..
Obrigada pela leitura!
Abs!