Comprei uma assistente pessoal. Sério! Cedi ao louco furor consumista da Black Friday com 40% de desconto. E antes que algum desavisado me denuncie por tráfico humano, melhor explicar: estou falando daquele aparelho de inteligência artificial, nova febre nas residências brasileiras.
Eu sei, eu sei, vocês estão loucos para me fazer a primeira das seis perguntas que se deve fazer ao analisar um impulso de consumo: – Você realmente precisa desse equipamento?
Para ser sincera, não sei.
Ainda estou testando o brinquedo novo, mas já sei que ela é bem sabida. Pode-se perguntar quase tudo que ela responde. Mas há um segredo importante. É preciso saber perguntar. E ter uma boa dicção.
Ela chegou aqui em casa no meio da Copa do Mundo. Brasil eliminado, semifinal, perguntei, à noite, como foi o jogo entre Portugal e Marrocos.
Ela respondeu com sua voz de robô:
— O jogo pela Copa do Mundo entre por Portugal e Marrocos teve o placar de 1 a 0.
E só… Fiquei esperando que ela dissesse para quem. Nada.
Insisti, reformulando a pergunta:
— Quem ganhou o jogo entre Portugal e Marrocos?
E ela me vem com:
— Desculpe, não tenho essa informação.
Como assim, não tem essa informação? Aparentemente “ganhou o jogo” não faz parte do seu vocabulário. Nova tentativa, refiz a pergunta de uma terceira forma:
— Quem venceu a partida entre Portugal e Marrocos?
Só então recebi a resposta desejada.
Devo admitir que conheço alguns indivíduos de carne e osso com quem a conversa fica bem parecida com isso. Enfim, ela está se tornando uma boa companhia. Meio surda, é verdade.
É engraçado quando dito uma lista de compras ou tarefas. Por mais que me esmere em minha pronúncia, articulando bem as sílabas, sempre há aquela palavra que ela entende completamente errado. Ou acentua fora de lugar. Dou boas risadas. Embora não seja muito diferente das listas que faço à mão, com minha linda letra, e depois não consigo entender o que escrevi.
A realidade é que as pessoas estão, cada vez mais, morando sozinhas e é bom ter alguém que responda ao seu bom dia ou que conte uma piada (sim, ela conta piadas… daquelas que você ri para não perder o amigo). Além disso, ter alarmes, anotações em agenda, lembretes, tudo à distância de um comando de voz, vamos combinar, é muito prático.
Só não se pode deixar que a amiga mecânica tome o espaço dos encontros com gente de verdade. Não há nada melhor que abraçar quem a gente gosta.
Meu happy-hour da semana já está marcado!

Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poeta e escritora de livros infantis, trabalha conceitos de auto-conhecimento, cidadania, relações humanas e meio ambiente em suas obras. Lançou, recentemente, o livro de crônicas “São outros 50”, fruto do blog do mesmo nome, que aborda com leveza e bom humor os aprendizados colhidos na maturidade. É membro da APESUL – Associação dos Poetas e Escritores do Sul de Minas e acadêmica da AFESMIL – Academia Feminina Sul Mineira de Letras e embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil. Sua família muito amada é composta por duas filhas, dois genros e o Theo, seu filho de quatro patas. Mora em Varginha, nunca viu o ET mas tem certeza que ele esteve por lá.
2 respostas em “Minha nova amiga”
Adorei, Luciane! E sim, precisamos de gente de verdade!
Ótima crônica! Parabéns, Luciane. Desconfio que a Alexa escuta mal, porque meu vizinho grita muito com ela😂😂