“Ontem tive uma crise de choro. Estou me apaixonando” — disse uma das minhas grandes amigas.
Quando tudo está sob controle, o medo fica adormecido: se alguém vai embora, não existe problema em praticar o desapego – nem apego havia! Mas quando o coração bate tão forte a ponto de paralisar os braços, gelar o estômago e fulminar a racionalidade, o medo assombra a alma.
Na teoria, ninguém pertence a ninguém, portanto, também, não há quem se perder. Na prática, não é simples assim.
O que dizer para a minha amiga, se sou a favor de viver, morrer e viver de novo quantas vezes forem necessárias? Se depois de uma série de decepções, ao mesmo tempo que afirmo não acreditar no amor, continuo a amar? Se tenho pavor de perder as pessoas que amo, porque elas são minhas, sim!
No meu primeiro namoro, aos 16 anos, eu tinha tanto medo de perder aquele namorado, deixei de curtir bons momentos imaginando cenas terríveis de traição, rejeição e abandono que nem aconteceram. E o namoro terminou.
Nunca quis o raso; molhar apenas as pontas dos pés para não me afogar. Quero mergulhar e explorar a profundidade, mas também voltar à superfície em busca de ar…
A maturidade, anos de terapia e a certeza de que “a vida continua” depois dos finais me apresentaram o equilíbrio entre o medo e a coragem: é possível me entregar sem me perder de mim.
Jamais diria para a minha amiga deixar para trás uma paixão para não se machucar. Uma vida sem cicatrizes não foi sentida e isso doi mais.
Eu sei que ela já havia tomado a decisão antes da nossa conversa. Mas reforcei com a minha opinião: o medo de perder também nos faz perder as pessoas. Viva tudo!
E ela foi viver…

Paulistana, nascida em 1980, mãe da Beatriz, formada em Direito e servidora pública da Justiça Federal.
Alexandra, Alê, mãe, filha, irmã, tia, amiga, assessora jurídica, apaixonada por gatos, companheira de passeios, colo para os momentos tristes, corredora nas horas vagas, devoradora de livros e de chocolates, apreciadora de vinhos e de música, escritora…mulher. Carrega sonhos, frustrações, realizações, planos para o futuro, desejos e uma vontade imensa de seguir os anseios da alma.
Escrever é a melhor forma de se expressar, organizar as ideias, aclarar sentimentos e distrair.
Publica no @umamulhersentiu e é colaboradora em alguns sites, como Nossas Palavras e Escritor Brasileiro.
4 respostas em “Medo da paixão”
Como diria Renato Russo, “medo de ter medo de ter medo”….não é bem assim? Maravilhosa crônica.
É bem isso!!!! Obrigada 🩷
Uma boa crônica pra refletir o medo de se apaixonar por alguém que se acha digno de você.
E além do medo dessa paixão, é o medo de viver intensamente a vida.
Independentemente de qualquer situação.
E de perder as pessoas amadas também. Aqui tem um grande ditado, Alexandra, o medo de perder tira a vontade de amar.
É isso. Um grande abraço e até a próxima.
Sábias palavras!