O interfone toca no escritório de seleção de pessoal. Ela está atabalhoada, organizando o armário apinhado de correspondência, formulários, propostas de emprego, currículos. O interfone insiste. Ela desocupa uma das mãos por um instante e atende.
— D. Margarida! Há uma pessoa na recepção para falar com a senhora.
— Peça para aguardar, eu já atendo.
Ela esteve afastada por algumas semanas para se recuperar de uma leve crise de estafa e hoje voltou ao trabalho. Enquanto atende os candidatos à vaga de emprego, tenta organizar a bagunça em que se transformou sua mesa durante a ausência. As bandejas de documentos estão submersas em papéis. A caixa de email, lotada e, em seu whatsapp, as mensagens transbordam para fora da tela. No ir e vir da mesa para os armários ela se lembra de uma frase que seu marido costuma usar no dia a dia: “Estou mais perdida que cachorro quando cai da mudança.” Ela ri e o interfone volta a tocar:
— D. Margarida, a pessoa continua esperando.
— Peça para aguardar mais uns minutinhos.
— Pois não. Ah! Ela está aqui há duas horas.
— Oh! Meu deus! Peça para entrar agora.
Após conseguir juntar os papéis dispersos ela os coloca num escaninho para posterior organização. Ato contínuo senta-se à mesa e acessa a pasta de emails. A caixa de entrada está repleta de arquivos marcados “com urgência”. Ela os abre e se envolve num sem números de decisões. Da porta vem um toc toc impiedosamente audível.
— Entre! Ela ordena sem desviar o olhar da tela nem as mãos do teclado.
Ele entra e se coloca em pé junto à mesa. Sem olhar para ele, ela indica a cadeira e oferece um café.
— Não, obrigado. Responde o homem sentando-se à sua frente, sem conseguir ver-lhe o rosto escondido atrás do notebook.
Então, ela dispara uma enxurrada de questões para ele enquanto responde aos emails:
— Vou lhe passar uma ficha. Preencha com letra de forma. Não deixe nenhum campo em branco. Quando terminar vire e no verso redija uma carta se apresentando, resumindo suas experiências e dizendo o que o leva a querer trabalhar em nossa empresa. Date e assine.
— Alguma dúvida! Diz, sem olhar o homem.
— Não querida, eu apenas queria dizer que sou o José, seu marido. Fiquei preocupado e vim saber se você está bem no retorno ao trabalho. Ah! Eu trouxe essa caixa de bombons.

Criado no Capão Redondo, Sampa onde Cursou 1⁰ e 2º ano de Letras.
Vive em Aracaju-SE
Leitor assíduo.
Escreve Poesias, Contos, Crônicas, Letras de música e, fotografa para registrar e agradecer por essa mágica viagem que é a vida
Textos premiados e ou publicados:
1⁰ Lugar no VII Concurso Literário da ALLA – Academia Leopoldinense Letras Artes, com a Crônica “Ossos em Fila”
1⁰ Lugar no 9⁰ Conc Biblioteca Lydia Frayze: com a Poesia “Pipa bailarina”
3º FELIV – Viçosa-MG: com a Poesia “O Bragal”
38⁰ Conc Yoshio Takemoto: Crônica “Amanhece em Arraial” – Menção honrosa
Algumas publicações em coletâneas:
UNISER/UNB – Concurso Voa com a crônica “Diário de um Velho urubuservador”
Ed Sinete 1ª Chamada Antologia com a crônica “Renasce a Flor no Lixão”
Selo Off Flip 23: participa com a Crônica “Pousos e decolagens”e a Poesia “Ao acordar uma criança não morra”
III Conc Literatura de Circunstâncias UFRR com o miniconto “Mãe vou pra rua”
14º Conc Microcontos Humor Piracicaba 2024, com o microconto “crise existencial no capitalismo”
2 respostas em “Entrevista de emprego”
Hahaha! Amei! Estou bem assim no meu trabalho também! Amei, amei, amei!
Obrigado pela leitura, Giordana. A rotina deixa a gente no automático, né ?? rss