Pertencente a família Rheidae, a ema é considerada a maior ave das Américas, classificada como ratita, ou seja, não pode voar em decorrência da estrutura das asas e do tamanho do corpo.
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“Atos tolos deixam de ser tolos se feitos por pessoas sensatas de um modo franco. A maldade é sempre maldade, mas a insensatez nem sempre é insensatez. Depende do caráter dos que a realizam.”
Emma, Jane Austen.
Nunca disse para ninguém, mas tenho medo da repetição. Repetir os atos daqueles que me rodeiam (por escolha ou não) sejam os erros ou os acertos. A ideia de um subconsciente-esponja me assombra, me deixa arisca ainda mais por se provar (sempre e sempre) ser além de ideia, fato. Na escrita: medo de repetir temas, maneiras, palavras. Você, de novo. Com você e você. Juntos? Mais um texto meu, só poderia ser meu. Usar a linguagem como dardo ao alvo é uma coisa que se assemelha a costume, treino, aperfeiçoamento ou como disse aquele que uma vez foi meu professor, Marcelo Ariel, ser talento: atenção concentrada e trabalho intenso. Porém, quando sozinha, admito que gostaria de atingir a capacidade de saber dizer por qual motivo alguém escolhe o centro de algo enquanto se tem a tenuidade das bordas e todo um universo além do objeto?
Não é vaidade, mais que prometo. É maldade, a maldade que carrego desde o nascimento. Uma obsessão proveniente não de amor, mas de um ódio direcionado para além da(s) ferida(s), um ódio destinado a capacidade de se ferir. A ação contínua de descascar o cerne da fragilidade em ser parte de uma espécie que se remixa, é que não há mesmo jeito para que eu entenda como o ato de remixar pode se tornar essa densa concentração de erros. Então mesmo os acertos ecoam como se tremessem no meio, como se desafinassem no coral. Veja, um homem que me atazana na estação Armênia também me atazana em Ribeirão Pires sendo dois seres humanos diferentes enquanto o homem que me ajudou num sábado á noite, sozinha em um bairro semi-conhecido, só existiu uma vez. Entende o que eu digo? Há esse temor para além da quebra de ego em reconhecer o mito da originalidade, é um receio de descobrir uma inclinação de repetir e repetir só o que há de maldade.
Os animais que mais me doem em suas limitações não são os cães abandonados, nem os gatos – espécie socialmente negligenciada. Os que mais me doem são as aves que não podem voar alto. Sabe quando uma galinha foge de você e ela bate as asas, mas não consegue manter os pés acima do chão por muito tempo? Ou quando alguém te revela que tem um papagaio de asas cortadas “ele voa, mas apenas baixo”, as circunstâncias são mais cruéis para com eles do que para com os pássaros que morrem engaiolados, pois esses pássaros durariam minutos fora do mundo que conhecem, mundo este que é tudo que há por trás das grades, enquanto as galinhas e os papagaios sabem o quê perdem pelo desejo de alcançar a perda do perder. Isso: poder algo, mas não na intensidade em que se almeja é mais limitante do que não ser capaz de jeito algum.
O quão frustrante consegue ser, ser uma galinha e ver os pombos fugindo dos humanos e suas acusações para lugares que eles não alcançam, ver os pombos lá em cima, mirando nessa humanidade distorcida enquanto você, sem doenças e inofensiva, é quem vai para a sequência tronco > panela > mesa > barriga.
“Ah,
Se a poesia me permitisse voos mais altos (…)”
Hilda Hist.

escrevo de dentro, por fora e entre as limiares de pedras (da selva); “Entre estas árvores que inventei e que não são árvores, estou eu.” – R.B
viva há pouco mais de sete mil dias grunhindo de são paulo, sp, brasil.
3 respostas em “Ema”
A grama do vizinho é sempre mais verde, quase nunca estamos satisfeitos com o que temos e estamos em busca de algo novo, às vezes, nem sempre melhor. O que fazer é a nossa natureza, boa crônica, parabéns.
O sonho de voar mais alto. Não vale infelizmente para emas, galinhas e seres humanos.
Icaro tentou isso e olha o que aconteceu com ele. Caiu no mar e morreu.
É assim que acontece comigo. Tento treinar literatura até o limite, mas descubro que não é só treino. É observação, leitura e traquejo social, difícil neste último caso pra mim.
No fim, só os pombos, beija-flores e a maioria dos pássaros são felizes. Podem voar para lugares que nem sonhamos em almejar.
É isso, Vitória. Uma boa crônica pra um sábado a noite tão vazio e ao mesmo tempo tão calmo.
Um grande abraço e até a próxima.
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