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crônica

8 de março

Tem quem torça o nariz, incomodado, quando esbarra com a palavra feminismo. Fico imaginando com quais conteúdos e imagens associam essa palavra, que tomam como ofensiva ou queixosa. 

Nós mulheres, trabalhamos em casa e fora dela, temos negócios próprios, viajamos, abrimos e fechamos contas bancárias, usamos cartão de crédito, votamos, nos candidatamos a cargos públicos, praticamos esportes e por aí vai. 

Mas sempre foi assim?

Informações falsas voam na velocidade da luz enquanto conhecimento científico, pesquisa e dados históricos não são impulsionados pelo algoritmo na mesma ligeireza. Aprisionados em nossa bolha,  reafirmamos convicções e nos distanciamos da realidade que é mais complexa do que um meme.

O ano de 1962 não está tão longe, mas ao olharmos para as mudanças que esse ano trouxe, é quase que inacreditável.

Foi nesse ano, que legalmente, nós mulheres deixamos de precisar da autorização de um homem para trabalhar fora, assinar documentos, receber herança, comprar ou vender imóvel e viajar. Foi quando adquirimos o direito de ter nosso próprio CPF e contas bancárias independentes de pais ou maridos. Inimaginável uma vida assim e faz tão pouco tempo.

Éramos consideradas civilmente INCAPAZES até 1962. Vale repetir, 63 anos, menos de um século. Nossas mães, avós, bisavós, nossas ancestrais eram consideradas civilmente incapazes de exercer os seus direitos ou cumprir os seus deveres, pelo fato de terem nascido do sexo feminino.

Até 1962, mulheres casadas só podiam trabalhar fora se o marido permitisse. E a autorização poderia ser revogada a qualquer momento.

Foi a partir de 1974 que pudemos obter cartões de crédito e, em 1977, adquirimos o direito ao divórcio. 

Um decreto que vigorou até 1983, proibia as mulheres de praticar profissionalmente esportes “incompatíveis com as condições de sua natureza”, limitando as modalidades esportivas que poderiam ser praticadas. Martas, Bias Ferreira, Beatrizes Souza, Amandas Nunes, Gabis Portilho antes de 1983 jamais poderiam ter trazido títulos para o Brasil, como fizeram.

Eu me espanto ao fazer as contas de quão recentes são essas mudanças. 

Quando uma voz se levanta para demonizar os movimentos feministas, me pergunto se tem conhecimento dessas informações. 

Avanços na lei não são conquistados por bondade do Poder Judiciário ou políticos solidários às questões femininas.Somente a pressão dos movimentos sociais tem a força necessária para abrir portas para que nossa vida seja um pouco mais digna. E sim, ainda temos muito a mudar.

Movimentos feministas não opõem homens e mulheres, não pretendem estimular a competição entre os sexos, mas vieram para fortalecer-nos e colocar-nos em condições de igualdade com o sexo masculino. Homens podem apoiar esses movimentos e são bem-vindos.

Ser feminista não está ligado à orientação sexual,  à forma de se vestir, a cor de roupas ou depilar-se ou não. Nem supõe ódio aos homens. Ser feminista é acreditar que todas as vidas devem ter os mesmos direitos e ser tratados de forma igualitária. 

Por nós e por aquelas que virão depois de nós, apesar do incômodo, refletir e se posicionar sobre essas questões, é necessário. 

Feminismo é assunto sério, não mimimi.

Fingir que os problemas não existem ajuda a quem?

7 respostas em “8 de março”

Gostei da tua reflexão, Maribel, a respeito do quanto as mulheres tiveram que lutar pra conseguir seus objetivos em todas as áreas de atuação.

Vou lhe contar uma história lá nos tempos do curso de história (com o perdão do trocadilho) e como vai ver, Maribel, é verdadeira.

Me perguntaram durante um debate se eu era feminista pelo fato de me solidarizar com as mulheres nas questões cotidianas de uma sociedade doente, hipócrita e preconceituosa ao extremo contra tudo que não seja homem, branco, heterossexual e temente a Deus.

Trocando em miúdos, aquela baboseira de Deus, Pátria e Família que me enoja.

Respondi que não sou machista nem feminista, mas sim realista. Porque as mulheres vieram pra ficar e se estabelecer onde bem entender e que se os homens não se adaptarem, vão comer poeira.

No fim das contas, os incapazes somos nós, os homens, de não entenderem que as mulheres são mais humanas e decididas a lutar por seus sonhos, seja quais forem eles.

Por essas e outras que eu, como homem que sou, sinto triste e envergonhado com essa situação tão absurda que as mulheres tiveram que passar por toda a história do mundo (e que ainda passam infelizmente).

Mas estão no caminho certo de colocar as coisas nos seus devidos lugares assumindo o papel que sempre deveriam assumir: a de protagonistas de suas histórias.

É isso, Maribel. Um grande abraço, até a próxima e parafraseando o grande Capitão Planeta:

“Mulheres, o poder é de vocês!!”

Uma olhada atrás com feitos históricos nos ajuda a ver o tamanho do salto dado pelas mulheres e a insensatez de outros tempos por aprisionar estes seres cheios de garra e coragem que lutam dia a dia por serem livres, por terem as mesmas oportunidades. Parabéns pelo texto!!!

Obrigada, Marité. É impressionante o volume de mudanças em tão pouco tampo. Mas ainda há muito por fazer, amiga. Bjos

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
É sobre isso… Um tema essencial para reflexão.
O 8 de março não é apenas uma data, mas um marco da luta por direitos, liberdade e respeito.
Que essa pauta vá além de um dia e nos inspire a seguir construindo caminhos de igualdade e transformação.

“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre…”🎵

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