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Ofensa 2.0

Essa é uma crônica matinal. Como toda crônica matinal, pelo menos as minhas, haverá ira e haverá ódio.

Fui renovar a CNH. Falam muito mal do serviço público neste país. A galera da UAI (Unidade de Atendimento Integrado) de Uberlândia, no Pátio Sabiá não merece as críticas. Às 8h da madrugada, estavam todos bem a postos atendendo a fila matinal de cidadãos cuidando de suas burocracias rotineiras.

A moça que me atendeu estava séria. No atendimento ao lado, outra moça, bem sorridente, explicava pela quarta vez qual havia sido o erro da cidadã que deixou as coisas para a última hora e tinha se enganado quanto a um procedimento. Ali ela só conseguiria dar início ao processo de… sei lá. Ainda precisaria fazer mais isso, aquilo e aquilo outro.

— Mas me disseram que era aqui.

— Então. Como eu já expliquei pra senhora…

— Então eu acordei cedo, vim de moto pra cá, vou atrasar no serviço e não vou conseguir resolver isso hoje?

— Infelizmente não.

A cidadã queria xingar. Queria xingar a educada, atenciosa e sorridente atendente.

Foi então que descobri uma forma moderna de ofender alguém. A cidadã pegou o telefone, ligou para alguém (ou fingiu que ligou) e começou:

— A gente vem aqui, amiga, e o povo faz isso com a gente. Eh… Não, ninguém resolve nada nesse país não! Agora eu tô aqui, feito idiota, esperando e não vou conseguir resolver tudo hoje. Bando de incompetentes. Onde já se viu! Eh… pra você ver! Uns incompetentes…

A atendente deu a senha. A cidadã se foi. Fiquei esperando a atendente virar para a colega do lado e começar sua vingança. Não o fez. Continuou sorrindo.

Nos nossos dias, há sempre um celular para intermediar nossa ira.

4 respostas em “Ofensa 2.0”

Há pessoas que se sentem o centro do universo, esperando que tudo gire ao seu redor. Pessoas difíceis.
Parabéns, Misael. Ótima crônica.

Entre mortos e feridos todos perdem a guerra. Realmente, vivemos em um tempo que todos querem estar sempre certos e nunca admitem as próprias deficiências, difícil tomar partido de A ou B. Parabéns pela crônica.

Tudo bem que tem mesmo atendentes ruins e mal-educados, Misael, mas aí a cidadã não entender as entrelinhas e as regras do troço deixando tudo pra última hora, é achar que tudo gira ao seu redor.

Dou loas a atendente que não perdeu o bom humor nesse caso. E qualquer coisa que não sai do seu agrado vira ofensa.

Estamos na era da impaciência e do imediatismo, meu caro amigo. Enquanto não entender que tudo leva tempo, vai ser assim.

É isso. Um grande abraço e até a próxima.

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