O ano foi 1997, a turma de amigos saiu do cinema estranhamente em silêncio. Algo inusitado para aqueles jovens que tinham o compromisso sagrado de assistir as estreias de todos os filmes de ação que pudessem.
A tradição iniciou no ano anterior com Independence Day, saíram da sessão interpretando as melhores cenas. Os diálogos entre Will e Jeff discutindo como dirigir uma espaçonave ou tirando onda de cowboy, fumando charuto da vitória em pleno deserto, mexeu com os garotos, sim só meninos. O tópico foi sensação por semanas. O sucesso da empreitada foi tão grande que o pacto intrínseco surgiu naturalmente, precisavam assistir a todos os filmes em grupo. Por que? Ora, como por que? Porque sim, são jovens, eis o porquê.
Logo a seguir vieram Missão Impossível, A Rocha, Twister e Um Heróis de Brinquedo, afinal era o Schwarzenegger… quatro consoantes sem nenhuma vogal no meio, tem que respeitar. Quem era moleque nessa época vai entender.
Mas, veio 1997… era perfeito, um filme do Batman finalmente com o Robin, dirigido pelo mesmo diretor de Garotos Perdidos, Um Dia de Fúria e Batman Forever e de quebra os vilões eram Schwarzenegger e Uma Thurman. Era o mesmo que pescar num barril de peixes, ou apostar na barbada do hipódromo, poucos se importavam com a escolha do ator para Bruce Wayne. Seria o filme da década.
Os traileres abundavam pelos jornais e revistas, as campanhas de publicidade eram maciças, a turma nem precisava falar nada, o próximo filme já estava programado, 5 de julho, sábado, no Cine Palácio, Cinelândia, centro do Rio. Quem chegasse mais cedo guardava o lugar na fila (infelizmente, não tinham inventado ingressos antecipados e a internet capengava entre a discada e a banda curta e o celular estava começando a popularizar, mas precisava de uma cartinha da operadora autorizando a compra do aparelho).
A testosterona pululava em 1997, surgiram Charlie Brown Jr e Raimundos, o golaço do Roberto Carlos contra a França e o famoso “vão ter que me engolir”, em julho também estava programada a estreia de Homens de Preto com Will e Tommy Lee Jones (ninguém nunca falava só Tommy), o Fantástico fez matérias especiais. As expectativas eram altas, os comentários surgiram aos borbotões, teorias, golpes fantásticos, armas e explosões, o novo Batmovel, o cinto de utilidades, o que teria de novo? cada um tinha uma ideia, mas ninguém estava preparado para aquilo…
O filme não é lá essas obras hollywoodiana, na verdade as produções envolvendo super-heróis careciam de certa seriedade para encarar o trabalho de forma mais satisfatória. Embora as atuações de Mr. Freeze (Schwarzenegger) e Hera (Uma Thurman) tenham enchido os olhos da turma com suas performances, a “patricinha” Batgirl (Alícia Silverstone) e o projeto de galã Robin (Chris O’Donnel) deram pro gasto, e apesar de todo o filme ser colorido demais para uma Gothan City sombria… apesar do “batcard”, nada superaria aqueles uniformes… Joel foi longe demais… derrubou toda uma geração masculina, entusiasmada, cheia de vontade de se encantar com mais uma de suas produções com fantásticos conceitos estéticos e visuais.
Ninguém ousou sequer fazer um comentário, queriam esquecer o que viram, aliás, alguns esconderam o rosto para não serem reconhecidos na saída do cinema. Afinal de contas o que queria dizer aquilo? Qual a mensagem que o diretor queria passar? Deveriam eles também seguir o novo padrão? As perguntas se multiplicavam na cabeça dos rapazes. O fato é que depois daquilo, ninguém nunca mais conseguiria tomar banho, ou tirar a camisa em espaço público, nunca mais seriam as mesmas pessoas tudo por causa daquele uniforme … mamilos ressaltados.

Sou nascido e resido no Rio de Janeiro, capital, adoro a Língua portuguesa e escrevo desde que aprendi a ler. Quando me pergunto por que escrevo, respondo que “é porque uma vida só não basta”. Tenho muitas histórias para contar e espero que elas sejam tão úteis para quem queira ler, quanto são para mim.
8 respostas em “Depois de Joel”
Muito boa a crônica, meu amigo! Batman e Robin foi o exato oposto de Batman (1989)
Grande amigo Eudes, muitíssimo obrigado pela atenção, concordo contigo, o Joel fez caquinha
Talvez tenha sido o pior Batman? Não sei se foi o Batman, o cinema ou outro quesito, mas sinto falta daquele clima dos anos 90. Ainda pairava uma esperança no ar, hoje, sinceramente, sou bem negativo
Escrevi essa crônica com nostalgia e humor, obrigado pela atenção e comentário Edmilson.
que interessante saber de uma polêmica que eu não fazia ideia! essas cronica me fez googlar para descobrir coisas curiosas, como a pausa de quase 10 anos do batman após o ano de 97! caramba. sua escrita tem um ritmo divertido, quase cantado. parabéns!
Obrigado Vitória, esse fato marcou uma geração
Me lembro dessa “tragédia” dos mamilos. Aquilo praticamente acabou não só com minhas ilusões como também distorceram toda a imagem sombria do Morcegão (Sou fã do Batman também) que só foi resgatada pela trilogia digna do Christopher Nolan com Christian Bale como o melhor Batman de todos os tempos na minha opinião.
Bons anos 90 aqueles. Foi em 1997 que entrei na faculdade salvo pela velocidade escalar média na prova de Física. Tenho tantas histórias sobre esta época que precisaria de um livro pra contar.
Até a próxima.
Meu caro Mário, depois que o Joel fez houve uma ruptura na juventude, abraço e obrigado.