Categorias
crônica

Gripei!

Gripei. Não há nada de especial nisso. Há quem esteja completando um ano de tosse ininterrupta, não é mesmo? Mas gripei e com o vírus veio a moleza no corpo, a dor de cabeça, a coriza, a dor de garganta. A mente não quer reter nenhuma informação, o corpo só quer a horizontalidade e qualquer compromisso se torna secundário, afinal de contas, saúde em primeiro lugar.

Fiz uma breve pesquisa. Existe uma linha de estudo, vou chamar assim, que explica que toda doença que se manifesta no corpo tem o início, em realidade, na nossa mente. O livro que consulto para qualquer sintoma que tenho no corpo é a “Linguagem do corpo” da Cristina Cairo. Neste livro, a autora diz que “pessoas que ficam gripadas com facilidade mostram sua revolta contra pensamentos contrários aos delas. Também mostram que muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo para si mesmos. Quando você se atola de compromissos que inibem seu jeito real de viver e deixa de lado o lazer para “trabalhar por necessidade”, você acaba desorganizando inconscientemente seu metabolismo e a gripe vem como forma de “congestionamento” na sua cabeça, que vai fazer você ficar doente para obriga-lo a parar um pouco e voltar a se ocupar consigo mesmo”.

Não escrevo isso para entrar num debate sobre quem acredita na abordagem do livro ou não. Cada um sabe de si. Escrevo porque, no meu caso, estou atolado de trabalho, diversos projetos simultâneos e sem tempo para, sequer, pensar em lazer. Mas aí, eu gripei. Assim que gripei, eu deitei na cama, respirei fundo e um pensamento cruzou a minha mente: “Que bom, posso descansar! Estou gripado!”.

No momento que pensei isso pulei da cama assustado. 

Para mim, é um caminho tortuoso esse aprendizado de tirar um tempo para o lazer. Um tempo sem culpa, sem preocupação e sem planejar o que tem que ser feito quando o tempo acabar. Não sei se isso acontece com todo o escritor. Li um meme esses dias que dizia que um escritor está trabalhando o tempo todo porque: ou ele está escrevendo, ou ele está pensando no que escrever. Esse processo mental é um gatilho para mim, porque já começo a pensar nos projetos, nos afazeres, nas ideias acumuladas, nas poucas páginas escritas, nas que faltam escrever, nas que precisam de revisão, nos resultados de projetos inscritos em concursos, nos que foram aprovados e precisam ser finalizados… 

Momentos em família não são aproveitados inteiramente. Os amigos ficaram para depois. Não saio mais para dançar, nem cantar, nem brincar. Ou até para não fazer nada. Existem lazeres que não me geram culpa como ler um livro ou ir ao cinema, mas estes, eu me convenci que é parte do meu trabalho e que por isso está tudo bem.

O trabalho virou uma moeda de troca para que eu exista em sociedade. Dizer que estou trabalhando é validação. Junte-se a isso, claro, um trabalho que não é visto como tradicional, a inconstância, os altos e baixos, os achismos sociais sobre o que é ser artista. O próprio mercado acredita que não se pode viver de escrita no Brasil, quer dizer… Como que eu paro de trabalhar, então?

Mas aí, vem uma gripe. E eu paro. E tudo fica bem. Nada para de funcionar. Ninguém me questiona sobre a pausa. Os projetos continuam existindo. Os prazos são atendidos. A criatividade ainda está ali quando eu volto para o trabalho. Tudo está normal.

Gripei. Mais do que gripar, refleti. Conclui que não é possível ficar feliz com uma gripe porque assim consigo permissão para descansar sem culpa. É fundamental estar saudável para aproveitar os momentos de lazer, planejá-los e estar presente neles. Se estou dormindo ou me divertindo enquanto alguém trabalha, pois que assim seja, quem sabe essa pessoa um dia chegue na mesma conclusão que eu cheguei.   

4 respostas em “Gripei!”

Excelente texto, Renan querido. Obrigada pela reflexão!
O descanso é tão importante quanto a ação e a produtividade!! Por mais dias de lazer, diversão, abraços, descanso e trabalho!
Amamos você. Obrigada por nos presentear com seu trabalho!!

As vezes uma gripe como essa é capaz de derrubar os mais fracos. Mesmo assim a nossa mente segue alucinada em busca de novos objetivos não importando qual posição do corpo: seja horizontal ou vertical.

O problema é que a gente precisa provar a essa sociedade hipócrita e doente que estamos trabalhando porque senão essa mesma sociedade te chama de vagabundo, acha que escrever é só perda de tempo e bla, bla, bla…

Só que se esquecem de uma coisa. Escrever é nossa missão de vida. Mas as vezes precisamos puxar o freio de mão senão batemos no muro.

Como se diz, são os ossos do nosso ofício.

Boa crônica, meu amigo. E até a próxima.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *