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O rolo do bolo

Sempre que Vale Tudo, meu marido, viaja, peço para trazer um mimo. Afinal, sou eu quem fico a cuidar da casa e ainda tenho que trabalhar. Se bem que as saídas dele são profissionais. Algumas para longe.

Já ganhei dromedário de Dubai, gatinhos e guerreiros chineses, cappuccino de uma cafeteria badalada de São Paulo. E um bolo de rolo de Recife.

O rocambole do Nordeste realmente tem sabor e valor. Já provei o de Maceió, mas me deleitei mesmo com o pernambucano. Talvez pareça menos massudo e açucarado. Não consegui identificar ainda. De todo modo, trata-se de uma iguaria.

Porém, numa determinada sexta-feira à noite, o doce me caiu com um sabor amargo.

Eis que uma mulher começou a me seguir no Instagram dia desses. A propósito, meu perfil encontra-se aberto. Se estou na chuva é para compartilhar posts. Estudo Comunicação online na USP, preciso por em prática todo o aprendizado adquirido e testar as redes sociais.

Retornando a tal seguidora, ela mandou mensagem no Direct. Respondi, mesmo não tendo ideia de quem se tratava. Até foto de uma criança fofa recebi da desconhecida. E ainda comentei. Só que nada de descobrir de quem se tratava. Perguntar, jamais. Podia não pegar bem.

Porém, eu não pedia para segui-la, já que a mesma mantém o perfil privado. Possuo lá meus princípios na internet.

Eis que numa famigerada sexta-feira, dia em que ganhei meu bolo com recheio de goiaba (olha que não suporto a fruta in natura nem goiabada), resolvi publicar a foto da fatia apetitosa com uma xícara rosa contendo meu expresso favorito para acompanhar.   

E fui para uma festa com meu cônjuge. Afinal, o final de semana se iniciava.Quando retornei, olhei meu Instagram e encontrei uma mensagem da misteriosa.Ela simplesmente contou-me que também havia recebido de presente um bolo de rolo. Muito ressabiada, retruquei de imediato com a seguinte frase:

— De Recife também?

A pulga atrás da orelha coçava horrores. Eu já pronta para perguntar ao meu marido se ele arrumara uma amante. E ainda dera um jeito de levar o docinho da outra antes de entregar o meu.

Senti um calorzinho subindo pelo pescoço. E então seguiu a resposta da até então outra, antes de eu ir tirar Vale Tudo do banheiro só na força do olhar.

— De Recife! Ganhei também. Meu esposo estava viajando com o seu, sentenciou a moçoila, tão prosa quanto eu com seu doce regalo.

Imediatamente, recobrei a cor e fui contar o rolo do bolo para meu cônjuge, que me disse que nunca mais vai trazer presentinho das viagens. E eu passei a seguir a mulher misteriosa na rede social com um grande alívio e ainda recebi outro bolo enrolado. Agora de chocolate. E juro como o de goiaba é o melhor. 

2 respostas em “O rolo do bolo”

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