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crônica

Estranho ano novo

01.01.2025. 10h57.

Estranho. Já é 2025 e, como percebera Ferreira Gullar, nada no céu nem na terra indica que um novo ano começa. É estranho não ter ainda novidades para contar dessas quase 11 horas, passadas grande parte sobre a cama e sob o espantoso silêncio da Via Láctea feito um ectoplasma. (Se não há novidades, já há um item na lista de novas urgências: uma cortina “blackout” para este quarto que me faz acordar sempre cedo demais)

Estranho também notar que não ganhei as habilidades vistas e ansiadas nos livros com os quais encerrei 2024. Não sei por que, mas o fraseado poético do Melville, a concisão do Rubem Braga, a inventividade do Guimarães Rosa, nada disso parece ter sido integrado a meu raso arsenal neste primeiro dia do ano. Estranho. (Penso que talvez eu deva continuar lendo, grifando, compartilhando trechos com minha esposa, fazendo transcrições e comentários em caderninhos, para ver se alguma coisa acontece… Será?)

(Enquanto escrevo, mensagens no grupo da família nos apressam para o primeiro almoço de 2025. Não darei meio passo antes de terminar este texto, antes de me dar aos luxos desses pequenos imensos feitos, feitos enfim como se deve, como deve ser: devagar — por favor, devagar!)

(…)
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver

É isso, então; se estranhamente o ano novo não começou nem no céu nem no chão do planeta, parece, talvez, que algo começou aqui no coração, no coração deste homem — esperança é mesmo coisa de homem, esse bicho estelar que sonha [e como sonha!] (e luta).

Uma resposta em “Estranho ano novo”

Uma crônica curta, mas bem direta, meu amigo Misael.

Todo ano começa com aquela expectativa de adquirir novas habilidades, mas como diz um certo clichê modorrento: tudo leva tempo.

É estranho, mas temos que lutar. É assim que as pessoas fazem.

É isso, meu bom amigo. Um grande abraço e até a próxima.

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