Sempre gostei de fazer listas, desde as de supermercado até as de tarefas do dia-a-dia. Listas de compras na farmácia, material de papelaria, objetos de desejo, filmes e séries para assistir, livros para ler. Enfim, listas: Um pedaço de papel, ou um arquivo digital, com o testemunho de todos os meus desejos.
Um prazer que vem da minha natureza prática e organizada. Me sinto bem em ir marcando os itens que consigo finalizar ou comprar. Me sinto bem em saber que não estou perdendo o foco do que eu determinei para mim. Minhas listas servem de bússola para o meu desejo. Evitam que eu me distraia com o que não preciso.
Elas também servem para aliviar o excesso de informação mental, que cria a sensação de urgência. Se eu deixo as tarefas e os desejos apenas na mente, tudo parece urgente. As listas me mostram que não.
Eu costumava ser muito pretensioso e me exigir demais, achava que conseguia dar conta de tudo ao mesmo tempo sozinho. Minhas listas, sempre enormes e sobrecarregadas de tarefas, eram a prova disso.
As tarefas não finalizadas, os filmes não vistos e os objetos não comprados, me deixavam ansioso. O desejo de querer riscar cada um dos itens da lista me tirava do presente e causava uma angústia desnecessária.
De vez em quando encontro uma ou outra lista, de anos atrás, perdida dentro de algum diário, o que me faz ter que lidar com a decepção de não ter conseguido realizar muitos dos desejos que um dia foram escritos ali.
Mas uma lista antiga, cheia de desejos que não consegui realizar, também me mostra o quanto mudei. Porque percebo que a maioria das coisas que um dia eu quis, não fazem mais sentido hoje. Encontrar uma lista antiga é como rever uma velha fotografia, você quase não se reconhece mais nela, mas sabe que um dia você já foi daquele jeito.
Hoje percebo que as listas que eu faço, além de serem uma ferramenta de organização, são também uma ótima maneira de visualizar tudo aquilo que eu não preciso fazer. De modo geral, eu listo tudo o que eu quero, sem me importar se é caro demais ou se são tarefas demais para eu dar conta sozinho.
Eu coloco tudo o que desejo, sem filtros. Depois eu olho para cada um daqueles itens e vejo o que dali é essencial. E no essencial, também está incluso aquilo que vai me trazer alegria em ter ou fazer. Porque a alegria gera entusiasmo e a vida exige entusiasmo da gente. E também para evitar sobrecarregar meu dia, ou o meu ano, com desejos que, no fim das contas, nem eram meus.
E nessa de focar no essencial, calhou que hoje é três de janeiro e eu ainda tenho uma lista com dezessete tarefas que deixei de fazer em dezembro. Fui deixando elas de lado por seguir à regra que mencionei no parágrafo anterior: Focar no essencial. E o essencial, eu fiz. O restante podia esperar, e esperou.
E se aquelas tarefas puderam esperar, é sinal de que elas nunca foram urgentes. Apenas frutos da minha ansiedade e do perfeccionismo que me faz sempre tão insatisfeito. Adoro fazer listas por causa disso, elas me mostram que tem muito a ser feito e pouco o que valha a pena fazer.
E início de ano é sempre um bom momento para fazer listas, seja das tarefas remanescentes do ano anterior, como a minha, até às de resoluções para o ano novo. Aquelas metas que vão nos ajudar a realizar grandes sonhos.
E o que posso dizer da minha lista deste ano, que ainda nem existe, é que ela será bem mais enxuta do que foi nos anos anteriores, e que o primeiro item dela será simplicidade, e simplicidade exige listas menores. Porque se tem uma coisa que minhas listas antigas me ensinaram foi que ser menos pretensioso, desejar menos, fazer menos, e até ser menos, é sempre mais.

Walter Filho é um ilustrador, escritor, fotógrafo e designer gráfico paraibano. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela UFPB, ele tem acumulado experiências profissionais em agências de publicidade e propaganda desde a sua formação. Seu trabalho autoral é baseado em suas experiências e reflexões em busca de uma melhor compreensão de si mesmo. Apaixonado por storytelling e pela escrita, Walter Filho divulga seu trabalho através da newsletter ‘Eu Ainda Tenho Um Blog’, onde ele compartilha com o público sua jornada de autoconhecimento através de textos e ilustrações. Atualmente vive em João Pessoa, Paraíba.
4 respostas em “As pretensiosas listas de ano novo”
Cada louco com sua loucura, né? Adorei a crônica e acho que a chave do sucesso é o que escreveu na última parte, ser menos pretensioso, menos ansioso, mais simples e viver mais. Abraco.
Sim, Cândido, tenho percebido que a chave da felicidade e de uma boa vida está na simplicidade. No ato de tornar mais simples as coisas, não na pobreza, que fique claro, já que tende-se a interpretarem mal esta palavra. Abraço e fico feliz que tenha gostado da crônica!
Sim, Mario, acredito que o essencial seja focar naquilo que depende da gente, mas com a consciência de que não podemos tudo e que as coisas demendam tempo, paciência e uma certa energia de nossa parte para que elas possam acontecer.
Fico feliz que você tenha conseguido mudar o rumo da sua vida e encontrado um caminho que te traga mais satisfação.
Abraço e até o próximo texto!
Pois é, essa foi uma lição muito importante que tenho que aprender e nessa crônica tu citasse algo que me tocou.
O desejar menos as coisas, o de não ser tão pretensioso e não se preocupar caso fracasse em algo que tanto quer.
É que durante muito tempo, sempre vivi cumprindo meus rituais a risca e tentando ser o que não sou. Isso quase custou minha vida a quase quatro anos atrás.
Minha lista de desejos não será muito grande também. Na verdade, queria mesmo fazer apenas um: o de seguir treinando na literatura em busca do meu tão sonhado livro em um futuro próximo, quem sabe.
Afinal, é a única coisa que sei fazer de melhor e se não fosse pelas palavras e por tantas e tantas situações, talvez não estivesse aqui comentando seu trabalho.
Nesses momentos, não faça listas. Deixe a vida te dar um destino.
Somos apenas personagens de um jogo chamado História da Humanidade e a qualquer momento, um anjo lá em cima aperta o botão Delete e a gente morre. (Quem jogou Age of Empires vai entender essa referência).
É isso, meu amigo. Até a próxima.