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Genialidades ordinárias de um minuto ou menos.

No último final de semana eu e meu namorado decidimos tirar umas mini férias, comunicamos no trabalho que iriamos faltar de sexta a domingo, alugamos um apartamento por aplicativo e tivemos uma vidinha de casados por 72h ou menos. Foram entregues duas chaves do apartamento para nós, uma para o portão da frente e outra da porta de entrada; elas eram diferentes, a do portão era arredondada, se não me engano, e a da porta principal quadrada e menorzinha.

Sexta-Feira, por volta das 16h.

– Ok. A redonda é do portão e a quadrada da porta.

 Sexta-Feira, por volta das 20h. André chegou em casa e eu fui abrir o portão pra ele.

– Qual chave abre o portão mesmo? Já sei, vou ver qual está na porta e a outra é a do portão, duh. Fácil de gravar.

Ainda sexta-feira, nossa janta chegou.

– André, pega lá. Não, não sei qual é a chave do portão.

Sábado de dia. Não saímos, não tive essa preocupação.

Sábado a noite, voltando do Sushi.

Levo a chave que julgo certa com as mãos trêmulas de frio até a fechadura do portão com tinta gasta. Abriu. CONSEGUI!! EU DECOREI AS CHAVES!! NÃO VOU LEVAR MAIS DE 5 SEGUNDOS PRA SAIR DE CASA AGORA!! E QUE CONHECIMENTO INÚTIL JÁ QUE AMANHÃ 12H ESTOU FORA DAQUI E NUNCA MAIS VOU PISAR NA CALÇADA DESTE PRÉDIO NOVAMENTE!!

Que sensação terrível! Saber de uma coisa e não poder usar, me exibir que sei, fazer várias vezes pra me reafirmar que sei. Terrível.

Uma vez (na verdade, várias, mas me lembro bem de uma em específico) no ensino médio, tive uma prova bimestral de Química, matéria essa que além de detestar, não fazia questão de aprender, mas precisava, pois, se fosse mal naquela prova, rodava de ano. Enfim, a bendita prova. Estudei dois meses inteiros pra ela, revisava cada letra escrita pela professora no quadro negro, lia e relia e via videoaulas e não tinha o que fizesse aquela matéria entrar na minha cabeça. A prova era numa segunda, no domingo de tarde dando minha última revisada no assunto o inesperado aconteceu: eu entendi a matéria. Eu consegui resolver um exercício sozinho, sem consultar a ultima página da apostila com as respostas e acertei! Eu acertei a questão! IUUUPIIIIII.

Fiz a prova na segunda-feira, a profa separou vinte minutos da aula para a prova e os últimos quinze para já introduzir a nova matéria (aparentemente estávamos “atrasados naquele assunto, todas as outras turmas já estavam na metade dele e nós nem começado tínhamos.” Mas toda professora fala isso pelo menos uma vez na semana e então…*barulho de peido*)

– Gente, calma. – Pede pra turma parar com o burburinho pós prova. – Já foi esqueçam o que vocês acabaram de fazer e se concentrem aqui pro novo conteúdo.

O que? Eu literalmente acabei de aprender a matéria mais difícil de toda a minha existência e tu me pede pra deixar pra lá?! Depois de duros e suados dois meses?! Só pode ser brincadeira, não acredito que aprendi isso no último segundo e nunca mais vou usar na vida, puta merda?!

Nota do Vinícius do futuro: pois acredite, no dia de hoje sequer lembro que matéria era essa em questão.

2 respostas em “Genialidades ordinárias de um minuto ou menos.”

Já passei várias vezes por essa situação, Vinicius, o de saber da matéria na última hora e não precisar depois disso.

No meu caso, foi Matemática. A genialidade veio e foi embora na mesma velocidade que entrou.

E graças a outro momento de genialidade ordinária que entrei pra faculdade em 1997. O momento da velocidade escalar média em Física, me valeu pelo resto da vida. Ganhei o canudo e aqui estou escrevendo comentários e histórias.

É isso, Vinicius. Que bom que sua genialidade ordinária aparece de tempos em tempos.

Que rende boas histórias.

Um grande abraço e até a próxima.

lindo como traduz pequenas conquistas que temos que as vezes valem por pouco tempo! mas é incrível como consegue transcrever um sentimento que todos temos e você materializou nesse texto! Muito bom, Vinicius Gritante!

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