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Ensaio

Sobre a natureza humana

Os seres humanos discernem-se dos animais pela razão que possuem ou deveriam possuir. Lógico que nem todos os homens gozam de tal dádiva. Existem aqueles que não se valem da racionalidade ou desta se valem para o mal. Não que eu saiba discernir o mal do bem, como o fazia Platão, mas sei que prejudicar terceiros não é algo que se julgue bom.

Como o ser humano que, ao sair da caverna, viu as coisas como eram e não apenas as sombras de que os demais apenas deduziam o que seriam, enxergando o bem com os olhos; e foi logo procurar os demais para dizer-lhes sobre o que vira; agi da mesma forma, e como aquele, fui massacrado.

É que as pessoas julgam e condenam, sem sequer dar chance de defesa ao alvo de seu ódio deliberado.  Os mais frágeis são ainda mais injustiçados que os demais membros da horda humana. Pois é a condição humana que nos discerne dos animais, porém creio que estamos ainda no estado selvagem. E, na verdade, são, aqueles que designamos por bestas, mais humanos que nós mesmos.

A lealdade é algo que sempre prezei, mas acho que se trata de algo estranho à sociedade atual. As pessoas não hesitam em desferir uma punhalada nas costas de alguém se isto estiver sob seu poder, ainda que isto não lhes traga qualquer vantagem. Assim que se veem com o poder de trair os homens, traem, e este é o cerne da questão: o poder.

O poder é o veneno de nossa estrutura. Dizem que para se conhecer bem uma pessoa deve-se dar poder a esta. Não deixa de ser uma verdade. Lord Acton dizia que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. As pessoas quando conferidas de uma mínima possibilidade de causar o mal a terceiros, o fazem, sem qualquer remorso.

Eu ponderei anos sobre esta questão e cheguei à dedução que o homem nasce mal e o poder o corrompe ainda mais. O homem já traz em si a capacidade de prejudicar, mas sem poder para fazê-lo, é contido em seu desejo. Quando lhe é enfim conferida a capacidade de fazer o mal, goza da alegria de que tanto esperava.

Os animais só agem por instinto. O instinto da humanidade é a razão. Não só aquela direcionada à evolução, mas também a maldade imbuída no coração dos homens. Ruins por natureza, não se preocupam com caridade, amizade, perdão ou quaisquer das virtudes de que se deveriam valer para o seu crescimento pessoal.  É que visam apenas ao poder e nada mais, ninguém mais é tão importante que a sua possibilidade de exercer o seu poder ainda que seja para o mal.

É Era das Trevas que ressurge? Sem ciência, sem leis ou qualquer coisa que o valha? A sociedade é subjugada ao poder de poucos novamente? É uma nova nobreza que ascende ao comando da população? Sim, é o que parece. As pessoas ainda falam sobre os micropoderes, aqueles de que são dotados uns poucos. em certas situações, e que deles se valem apenas para prejudicar a quem quer que o seja, principalmente, as suas inimizades.

Assim caminha a sociedade, desleal, má, traidora e vil. Os homens sabem que sua involução é algo iminente. Porque parece que jamais saíram do estado de horda. Sempre buscando o poder, nem que este venha com o melhor pedaço da caça, com as fêmeas mais produtivas, ou para, simplesmente, descartar aquele por quem nutrem ódio, ainda que tal sentimento tenha nascido sem motivo algum.

Os animais não agem da mesma forma, o instinto que os guia é o da sobrevivência da espécie. O que nos guia é o da nossa própria sobrevida. Pois somos os seres mais egoístas da história. Não pensamos em comunidade, mas no eu. Como se fôssemos mais importantes que qualquer coisa ou qualquer um. É até uma excludente de ilicitude matar alguém para proteger a nossa própria existência. Não é crime nos alto preservar. Ora, se nem nossa consciência nos condena, por que a lei o deveria? A religião nos condena, mas ninguém teme mais a fúria divina.

A religião que as pessoas professam, atualmente, é como ler a bíblia tal qual a um self-service de que você só professa aquilo de que gosta, o que não é do seu agrado, você ignora. As pessoas se dizem crentes e traem, se dizem religiosas e realizam todo o tipo de maldades. E tenho certeza de que, das vezes em que li a bíblia, não havia qualquer permissão de fazer o mal a quem quer que seja.

Na verdade, penso que Jesus havia dito amar o próximo como a ti mesmo. E o que vejo é as pessoas amarem tão somente a si mesmas. “Que se dane o próximo, o importante sou eu!” Parecem dizer. E não há regra de ouro que respeitem, “fazer ao próximo o que espero que este me faça? Ao diabo! Eu faço o tão só o meu, o outro que se dane!”

Enquanto isto, eu me sinto como peça que não se encaixa neste novo tipo de horda, (não dá para chamar isto de sociedade), enquanto me pisam, eu ofereço a outra face. Enquanto me flagelam, peço para que Deus os perdoem, enquanto me maltratam, não os desejo o mal. E eu fico me perguntando se ainda há espaço para amor e compaixão na humanidade atual. E, ao que parece, a negativa é a única resposta.

Ainda que não pense que exista justiça divina, que ninguém vai pagar por nada de mal que fez em vida, ou em morte, continuo a fazer o bem. Movido pela minha própria consciência, seguindo aquilo que aprendi dos meus pais, a bondade é minha única arma contra o mal. Ainda que saiba ser inócua contra corações tão duros.

As formigas são uma sociedade perfeita porque nenhuma formiga do mesmo formigueiro prejudica alguma outra, na verdade, elas trabalham em conjunto para o bem do formigueiro. Na horda humana há uma constante briga pelo poder. E quando o alcançam fazem com este toda a maldade que vinham guardando em si há anos.

E fico pensando em tanta gente boa que sofreu horrores para ensinar o bem ao mundo: Mahatma Gandhi, Madre Tereza e tantos outros morreram tentando ensinar que a bondade é nosso caminho para o crescimento de uma verdadeira sociedade. Mas quando surge alguém que queira ensinar o bem, os maus os matam, por puro medo de perder seu poder conquistado fazendo o mal.

É por isto que a cada apunhalada que recebo nas costas, a cada traição sofrida e a cada humilhação a que sou submetido, não penso em vingança ou em massacrar meus algozes. Na verdade, peço com o mesmo altruísmo de um Cristo Crucificado: “Deus perdoai-os porque eles não sabem o que fazem”. Oremos…

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