“- Leões e panteras são inofensivos, mas tome cuidado com galinhas e patos, porque podem ser muito perigosos – disse uma minhoca aos seus filhos” (Bertrand Russell, matemático e filósofo galês)
Essa frase, lida no correr dos dedos numa rede social, me levou a reflexões sobre a relatividade de tudo, que vou aqui compartilhar com você, leitor ou leitora. Perdoe-me se os parágrafos parecerem um pouco soltos. Você sabe como pensamentos podem ser rebeldes, às vezes…
Quando eu estava no terceiro ano do ensino médio, me preparando para o vestibular, passei dois meses num cursinho preparatório. Tenho poucas lembranças desse tempo, mas um professor, o de física, eu nunca esqueci. Não ele, propriamente, mas algo que ele dizia e fazia. Ele subia na mesa, levantava um braço e gritava: Tudo depende do quê? E a classe, em coro, respondia: do re-fe-ren-ci-al! O referencial, claro!
Eu sempre me considerei uma pessoa carinhosa. Vivia em um meio onde as pessoas eram contidas, formais e meus abraços e manifestações de carinho se sobressaiam. Ultimamente tenho percebido que há, em minhas relações atuais, muita gente mais carinhosa do que eu. Diante delas, sou contida, formal. Meu referencial mudou, alterando um conceito que eu tinha.
É assim… Se saímos de um quarto escuro, qualquer lâmpada de 15 watts nos ofusca. Mas se viermos de uma tarde ensolarada, como as que temos tido, a mesma lâmpada torna-se penumbra.
Quando usamos o termo “o melhor do mundo”, estamos nos referido ao “melhor que conhecemos”. Não é possível ser absoluto.
Nossa percepção sobre as coisas, e daí nossa avaliação, dependem sempre do tipo de experiência que vivemos.
Fico pensando nas pesquisas de opinião. Em perguntas do tipo “você está contente com o Brasil?”, que referencial cada um de nós tem? Como é a vida de cada pessoa que responde sim ou não? Comparamos a vida no país com que vida que conhecemos para classificar o presente de bom ou mal?
Ocorreu-me que aqui pode estar uma das diferenças entre o otimista e o pessimista – ou ainda o realista esperançoso, como diria o grande Suassuna: a escolha do referencial! Se, ao buscarmos referências para avaliarmos situações, acessarmos as piores, entendemos que estamos bem. Se buscarmos as melhores, nos decepcionamos com o que estamos vivendo…
Conjecturas de uma mente inquieta. Talvez isso vire um ensaio, algum dia. Ou talvez acabe perdido entre os milhões de textos na internet. Gostar ou não gostar da leitura também vai depender do seu referencial…
Até a próxima.

Luciane Madrid Cesar é uma paulistana de coração mineiro. Cronista, contista, poeta e escritora de livros infantis, trabalha conceitos de auto-conhecimento, cidadania, relações humanas e meio ambiente em suas obras. Lançou, recentemente, o livro de crônicas “São outros 50”, fruto do blog do mesmo nome, que aborda com leveza e bom humor os aprendizados colhidos na maturidade. É membro da APESUL – Associação dos Poetas e Escritores do Sul de Minas e acadêmica da AFESMIL – Academia Feminina Sul Mineira de Letras e embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil. Sua família muito amada é composta por duas filhas, dois genros e o Theo, seu filho de quatro patas. Mora em Varginha, nunca viu o ET mas tem certeza que ele esteve por lá.
2 respostas em “Relatividade”
Tudo depende do referencial, do ponto de vista, do lugar de onde se está. Um aviso importante para quem considera que existe uma única verdade: a pessoal. Tema importante no mundo atual, Luciane!
Bem, Luciane, como tu dissestes bem, o referencial é tudo. ´
Por exemplo, se teu referencial for só os escritores, pesquisadores e artistas famosos, tu acabas fazendo uma de duas coisas: ou tu tentas ser igual a ele mas nunca será ou procura uma navalha mais próxima e se mate por ser “inferior” a eles.
Tudo é relativo. Tudo depende do contexto a nossa volta.
Essa sua experiência em cursinhos me fez lembrar da bendita velocidade escalar média que salvou minha vida no vestibular e devido a isso, pude fazer o curso de História na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e me formar depois de cinco anos.
Ali encontrei um bom referencial de professores e colegas que se tornaram amigos de longa data.
Uma boa crônica que se depender do meu referencial é muito boa e pretendo fazer uma parecida “quando crescer”.
É isso, Luciane. Um grande abraço e igualmente.
P.S: No Rio Grande do Sul, quando a pessoa fala o que a gente fala. No seu caso, até a próxima (alias é minha frase favorita no blog), nós falamos igualmente pra dizer a mesma coisa de uma forma diferente, por isso o igualmente.