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Praia da Ursa ou a maturidade

Ando devagar… Não sei se já tive pressa… Me lembro bem de dizer para mim mesma “Quero ser feliz!!”, acreditando que o desejo tem força e, de repente, olhar em volta e reconhecer que eu já era feliz e não percebia.

Parece até letra de música, mas não é não. A maturidade chegou para mim com a bagagem do tempo que foi vivido sob o meu olhar estético (sensível), como se tudo que vivi e vi pudesse ser transformado em um roteiro prontinho para realizar um filme, bastando só escolher o nome favorito para assinar a direção, porque poemas ou crônicas já são uma versão patenteada pelo meu olhar e a minha palavra, eu mesma assino!

Podemos pôr na conta da maturidade, um tipo de aceitação que tem a ver com saber que há coisas que não fizemos e, nunca seremos capazes de fazer. É um saber que não vem do medo, da prudência ou de uma consciência de limites.  O mais certo é que resulte de um cálculo. Os fatores que entram nessa conta, é que diferem de pessoa para pessoa. São coisas que não fazemos porque sabemos que não são para nós… difícil explicar.

O contrário também pode acontecer e, é mais fácil de explicar. É o caso da minha mãe, quando ainda estava entre nós e caminhava, com o auxílio do nosso braço e de uma elegante bengala. Ela tinha tanta vitalidade que pensava como se ainda fosse a nossa supermãe mulher Maravilha!

Vou dar só um exemplo: Se estivéssemos caminhando a uma distância de mais de 100 metros da faixa de pedestre mais próxima e ela visse de longe o sinal aberto, do alto dos seus mais de 80 anos, com bengala e tudo, acreditava que teria agilidade de chegar a tempo e atravessar a rua, com toda calma e elegância, antes de o sinal fechar. Eu achava isso maravilhoso!

Eu entendia minha mãe… a sua mente era incrivelmente jovial, incompatível com aquele corpo cansado, lidando com a artrose, com as complicações cardíacas e a gravidade pesando sobre nós. Dentro dela habitava uma bela mulher sem idade, ágil e cheia de vida.

O meu caso, ao contrário, é exemplo dessa consciência de limites que não desejo ultrapassar…

Outro dia vi uma imagem da “Praia da ursa”, uma praia lindíssima que fica em Portugal. Deserta e cercada por formações rochosas surreais, já foi considerada como uma das praias mais belas do mundo. Tudo isso foi enchendo meus olhos de desejo: Quero conhecer!

Mas, que nada! A praia da ursa não é para mim… Como? Eu fui ler mais para poder aceitar, com a maturidade que vem tomando conta de mim, por que não posso pisar nas areias da Praia da ursa?

Para começar, o acesso a esta praia inclui uma caminhada íngreme de 20 minutos pelo penhasco até chegar à praia deserta com suas formações rochosas afiadas. Recomendam, inclusive, que se deve planejar usar sapatos próprios para a caminhada. Leiam mais:

“(…) A Praia da Ursa fica escondida na zona costeira de Sintra, a apenas algumas centenas de metros do famoso Cabo da Roca, o ponto mais ocidental de Portugal Continental e da Europa Continental. (…)A única maneira de lá chegar é a pé. O acesso faz-se através de um trilho sinuoso e pelo trilho já dá para ter uma vista panorâmica maravilhosa da praia. Inclusive, os miradouros naturais sobre a Praia da Ursa são absolutamente imperdíveis! A partir do miradouro você poderá desfrutar do mar e deleitar seus olhos com vistas sublimes. (…) (Copyright  https://partiupelomundo.com )

Queridas e queridos leitoras e leitores, eu cresci aprendendo a viver e explicar muita coisa que não tem explicação ouvindo os provérbios que minha avó materna, muito sábia, usava para dar sentido a tudo. Minha mãe também sabia outros tantos provérbios e máximas que foram herdadas dos nossos antepassados negros e indígenas.

Então, eu sei que passarinho que anda com morcego dorme de cabeça para baixo. Sei também que só se deve por o chapéu onde a nossa mão alcança e, não devo olhar para o lugar onde caí, mas para onde escorreguei.

Com o tempo, tudo isso que se aprende e guarda na bagagem do tempo vai ensinando a ter essa serenidade. Aí, eu vou pondo na conta da maturidade a aceitação das coisas que não posso fazer, que não é para mim, tipo… fazer, a pé, todo o Caminho de Santiago de Compostela, escalar o monte Everest, visitar a Praia da ursa… O que mais…?

2 respostas em “Praia da Ursa ou a maturidade”

Gostei muito do tema maturidade, Nádia, porque não e fácil de reconhecer e de saber o tempo certo de madurar.

Quando toma decisões sábias, quando aceita que tu és diferente das outras pessoas e tenta ser feliz mesmo com tudo isso (que é meu caso aqui) e principalmente quando percebe seus limites.

Nádia, tua mãe me faz lembrar a minha. Apesar das dores e dos problemas da idade (nunca se divulga a idade de uma mulher, a não ser que esta autorize), mantem uma inteligência e uma jovialidade fora do comum.

Não dá pra se ir a tudo que gosta, mas dá pra acionar o google maps e deixar sua essência ir até a praia da Ursa ou a qualquer outro lugar.

Uma dica de amigo. Eu costumo fazer isso no quesito bibliotecas do mundo inteiro.

É isso, Nádia. Um grande abraço e até a próxima.

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