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Piercing, pés e carnaval

No carnaval que passou, compartilhei da amorosa companhia do meu sobrinho nº 2. Ele veio do outro lado do oceano Atlântico para a Terra Mãe, a sua Boa Terra Salvador, no Recôncavo Baiano.

Quando eu tinha a idade dele, era uma foliã apaixonada, mas de uns anos para cá, sobretudo pós pandemia, quando chega o carnaval eu tento manter distância. Difícil tarefa, quando habitamos o “olho do furacão”, por assim dizer, morando no chamado “Circuito do Carnaval de Salvador”, ou seja, os rumores da folia, no entorno, reverberam nas paredes, janelas, aparelhos eletrônicos, ruas, céus…

Ficaria feliz só de proporcionar um cantinho seguro para meu sobrinho poder voltar e descansar depois de cada dia da longa jornada dos oito dias carnaval. Mas, numa daquelas manhãs de preparativos para curtir o reinado momesco, ele contou que tinha ficado sem sandálias. Então, emprestei uma sandália tipo havaianas e ele saiu feliz para “pular carnaval” pelas ruas da cidade. “Pular” ou “brincar” carnaval, era assim que se dizia antigamente.

O carnaval passou e meu sobrinho nº 2 voltou para o “Velho mundo”. A surpresa foi constatar que a sandália sobreviveu aos testes de impactos e resistência a que foi submetida nos dias de folia momesca. Só precisava de um banho bem escovado… Espera!  Parece que a sandália voltou com um ponto brilhante incrustado reluzindo em uma das solas. O que era aquilo?

Curioso… em formato de anzol, um prego longo e muito fino, pescou a sandália e com o gancho afiado, agarrou-se a carne azul da nossa havaiana brasileira. O que era aquilo?

Acreditem, eu nunca tinha visto um piercing de pertinho in natura, quero dizer, fora do habitat para o qual foi criado. Busquei uma lente de aumento, pesquisei, para esclarecer a minha mente “virgem”, uma vez que, como já lembrou a escritora belga Marguerite Yourcenar, “Chegamos virgens a todos os acontecimentos da vida” …

Quando tomei conhecimento do que se tratava, a região do meu cérebro responsável pela criatividade, imaginação, inventividade, fantasia, deu um clique e, meu olhar fixo no piercing já não o via, meu corpo paralisou enquanto minha mente fértil começou a viajar num encadeamento de fatos reais e imaginários, tipo causa-efeito numa sucessão de eventos que remontavam a jornada que a bijuteria ou joia, supostamente, tinha feito até ali…

Embora possamos dizer que não é um destino muito nobre ser criado para decorar o nariz de alguém. E, para piorar, por destino ou acaso, durante o Carnaval de Salvador, talvez como resultado de uma folia momesca a base de suor, água mineral, cerveja, cotoveladas aos pulos atrás de um bloco de carnaval ou na pipoca de um trio elétrico, o pobre piercing tenha despencado do nariz de seu portador direto para o meio da avenida, se perdendo no asfalto quente, até se agarrar numa sandália de salvação. Pensem no drama!!

Tudo pode ter acontecido, inclusive o que descrevi acima. Fico com essa. Fico por aqui. Não sem antes perguntar: Qual é a sua versão da história cara leitora? Caro leitor?

9 respostas em “Piercing, pés e carnaval”

Na verdade, o piercing não é um piercing, mas o fragmento da antiga civilização kriptoniana que cruzou infinitos espaços e veio aterrissar na Terra trazendo a única prova de vida extraterrestre, mas por infortúnio do destino teve suas intenções frustradas ao ser dilacerado em nossa atmosfera, reduzido ao tamanho de um piercing e tornar-se obscuro na sola de uma sandália emborrachada, destruindo de vez toda teoria asimoviana de que não estamos sós nesse universo e Kal-El é fruto de pura criatividade.

Bem, como diz um certo capitão Nascimento, missão dada é missão cumprida, então vamos a minha versão desta história que escreveste.

Provavelmente deve ter ocorrido uma confusão durante o carnaval e como os tempos andam bicudos a ponto de só olhar pra pessoa de revesgueio e atravessado, a chinela já canta.

O cara deve ter se irritado com o dono ou a dona do piercing só por causa deste ou desta usar o acessório achando que era inadequado pro Carnaval e deve ter mandado tirar. Aí, a pessoa não gostou muito e a briga começou no meio do “pula-pula” carnavalesco. Deve ter arrancado o acessório do corpo com um daqueles alicates que os mafiosos usam pra quebrar os dedos de seus inimigos e o piercing caiu no chão.

Seu sobrinho devia estar sambando como um Carlinhos de Jesus redivivo e o piercing deve ter-se alojado no chinelo. Foi um milagre não ter cortado o pé dele com a ponta do piercing porque o acessório é pontiagudo pra caramba.

É minha versão da história. Não sei se está no seu agrado.

Por enquanto é isso e até a próxima.

Caraca!! Que viagem massa!! Eu, já pensei outra coisa… o piercing não estava no nariz, mas em outra parte do corpo… e na animação, foi parar no chão, pisado, maltratado, acredito que ele tenha ficado feliz ao encontrar abrigo na sandália… aquela que não deforma, não solta as tiras e nem tem cheiro…

Adorei essa crônica momesca!!! Acho que o piercing pode ter despencado do umbigo da pessoa e não do nariz. Nem piercing resiste ao balanço do carnaval baiano :))

Nadia, eu acho que esse piercing buscava libertação, queria brilhar nos pés de algum folião, e sambar até o carnaval acabar. Ficar preso a um nariz diminui muito as chances de alguém ser feliz. Então escolheu alguém estreante, como ele, em samba no pé e carnavais no chão e se jogou ao encontro da folia. rsrsrs Viajei na sua história!

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