Monto quebra-cabeça na ilusão de estar me divertindo (mas estou) enquanto assisto a aulas e não escrevo meu livro. As aulas são para impulsionar a história. Comecei a bordar sob a justificativa de um novo hobby (eu queria mesmo). Leio três livros por semana argumentando que são para pesquisa da minha nova obra em andamento (mas realmente são).
Faço e risco todos os itens da minha lista de tarefas para dizer que estou pronta para sentar na frente do computador e fazer meus personagens viverem suas próprias tragédias. No entanto, sempre surgem novas demandas para a tal lista. Arrumar a cama, afazeres da casa e outras ocupações literárias.
Contos: histórias curtas que me dão a sensação de missão cumprida. Escrevo vários para concursos literários, clubes de escrita, até para reuni-los num novo livro. Mas sempre com a sensação de que servem para procrastinar o projeto mais longo.
E o livro se enrola por quase dois anos na escrita de sua primeira versão. Sempre falta algo, uma peça.
Tenho metas de projetos, cursos com duração máxima de um ano. Um prazo razoável para pessoas ansiosas. E o livro, por que a ansiedade de terminá-lo não contribui para isso?
Enquanto isso, a procrastinação criativa toma conta. Logo voltarei a pintar quadros, tentarei mais uma vez estudar piano, colocarei em prática o objetivo de zerar os livros da minha estante, conhecer os cafés da cidade com a desculpa de ir para um lugar diferente escrever e ter inspiração. Geralmente como muito e escrevo pouco nesses dias.
Falando em livros para ler, esse não está na minha estante, mas muitos já me indicaram: O ócio criativo, de Domenico de Masi, que fala sobre trabalho, estudo, lazer, sobre o tempo livre e a criatividade. Talvez seja a próxima leitura de estudo, ou seria de procrastinação? Meu marido diz que preciso ler “O poder do hábito”, de Charles Duhigg, para ter o hábito de priorizar o mais importante.
Quem sabe, se eu colocasse meus personagens do livro para fazerem tudo isso, eu resolveria todos os meus problemas. Eu e eles iríamos nos divertir juntos bordando, lendo, montando quebra-cabeça. A trama deles andaria e a minha também.
Crônica escrita, item riscado da lista.
Peraí, já volto, perdi uma peça do quebra-cabeça. Sempre falta uma peça.

Aos 31 anos, Marina Hadlich trocou a carreira jurídica pela vida de escritora. Nascida em 1985, em Blumenau/SC, atualmente mora em Florianópolis/SC com seu marido, onde segue lendo e escrevendo à beira-mar.
A autora ama propagar a literatura por meio de bibliotecas comunitárias, campanhas de arrecadação de livros, além de mediar clubes de leitura e de escrita. Também cria microcontos de graça em sua máquina de escrever para quem estiver passando pela praça da cidade.
Marina publicou o livro de contos “100 Mulheres” (2019), o infantil “O menino que se escondia” (2021), o chick-lit “Até essa comédia se tornar romântica” (2023) e o livro de contos “Mulheres mofadas nas entranhas e nas memórias” (2023 – Editora Patuá).
4 respostas em “O quebra-cabeça da escrita (ou da procrastinação)”
Ando procrastinando até o projeto de um livro completo rsrs. Por enquanto, meu foco está nos contos e nas crônicas, ainda assim com a dificuldade de encontrar tempo na rotina. Seu quebra-cabeça anda bem arranjado rs. Daqui a pouco o livro sai! Bjs
oi, Carina, estamos juntas procrastinando livros hehehe mas não economizamos nas palavras, que bom que estás escrevendo outras coisas. Uma hora flui. E finalmente terminei o quebra-cabeça da Monalisa.
Também tenho esse hábito de escrever a lista de atividades e ir ticando conforme vou concluindo. Uma lista circular e sem ponto final. Então vou escrevendo entre uma atividade e outra, na esperança de que tudo vai se encaixar e fluir.
Ser mulher com todas as suas atribuições e escritora é desafio.
Valeu a reflexão, Marina!
Sigamos na escrita!
Tu não és a única a enfrentar esse tipo de coisa, Marina, acho que todo mundo tem essas coisas em um determinado ou determinados momentos.
Eu mesmo ainda estou tentando fazer aquele livro, mas não tá fácil porque sempre tem um contratempo ou outro.
Uma coisa ou outra devido a não saber priorizar as coisas direito. É aquele lance de querer fazer praticamente tudo ao mesmo tempo que não leva a nada no fim das contas.
Até crio algumas histórias e cumprir parte dos treinamentos literários, mas sempre tem o mundo real lá fora pra lidar e esse tem como exemplo no meu caso, dar comida pros cães, ajudar nas despesas da casa, ver corridas e futebol porque escrevo muito sobre isso no blog, etc, etc..
E ainda tem os elementos que não podemos controlar como imprevistos, o próprio clima, etc…
Mas é assim mesmo. Vida de escritor seja aspirante ou famoso é dessa forma.
E esperamos que a procrastinação não atrapalhe nossos sonhos e anseios.
É isso. Um grande abraço e até a próxima.