DE VEZ EM QUANDO NÃO CONSIGO DORMIR. Essa crônica nasce em um desses momentos: quando o sono não vem, os olhos não pesam e a cabeça começa a divagar sobre as incoerências e os estranhamentos da vida.
Como Homem, sei que não são poucas as coisas que nos tiram o sono: brigas no escritório, com a patroa, a expectativa da promoção que nunca chega, a grana curta para pagar as contas (que mais parecem o homem elástico), brochar na hora H (ou nem conseguir chegar nesta letra), o time do coração que está mais para mensageiro de Satã nos esbofeteando até a ira, o filho que mal ganhou pêlos pubianos e já fala em revolução armada. Em filiar-se a hordas comunistas. Em tornar-se um Che Guevara dos trópicos. Ou a menina, que decidiu contar para a família sobre o namorado na hora do jantar.
No meio de todos esses, caro leitor, dois se destacam por tamanha imponência corrosiva para o universo testosterona: o brochar e o time do coração. Data venia, está para nascer um problema que seja maior para o tico e teco masculino equacionar que esses dois. Arrisco-me a dizer que são os únicos que de fato descompensam os homens. Se os vossos maridos, namorados, amantes e amigos dizem que não é verdade, não se enganem; eles estão querendo sair por cima da Carne Seca . Fazer média.
Vejamos então…Brochar…Quem nunca passou por essa experiência de morte que se prepare: não há um homem debaixo do sol que esteja imune a este risco. A está ferida aberta no ego macho-alfa de todos nós. Causa-me arrepio constatar este fato. Valha-me Deus! Ser imbrochável é o estandarte desejado de todos, e alcançado por poucos. Tornar-se uma lenda viva da cópula, da volúpia. Um ser insaciável. Um garanhão italiano à la Balboa.
Por pudor besta (puro machismo), ninguém bate no peito para admitir a fraquejada e grita aos quatro cantos que no último mês faltou-lhe entusiasmo na hora H, ou que se perdeu em devaneios e que por isso não conseguiu manter a coisa de pé. Que perdeu o controle na hora de molhar o biscoito e ele amoleceu. O sistema não admite tamanha demonstração de fraqueza.
Por isso a culpa é sempre da parceira. “Ela não soube me motivar.” Não usou a melhor camisola, ou aquela peça íntima vermelho paixão para facilitar. Não conseguiu atingir o Ponto G do garotão. Aliás, terceirizamos a nossa culpa desde o Éden. “Foi a mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi.”
O time do coração —futebol— é outro fator de desequilíbrio para alguns homens, mas não apenas isso. O transe futebolístico muita das vezes desmascara certos hipócritas. Expõe a cruel face Sapo de postes-príncipes que na sede de gritar gol anulam o mundo.
O universo torna-se verde, retangular e é habitado por 22 caras-pálidas que correm atrás de um objeto esférico, denominado bola, que quando ultrapassa determinada parte deste pequeno planeta, o B612 masculino, coloca alguém em vantagem, ante ao oponente.
Pobres mulheres, agredidas com a invisibilidade durante as transmissões, buscam formas de convencer os parceiros (vacilões) que têm jogos mais interessantes para participar. Travam uma luta inglória contra a TV. Tornam-se seres fantasmagóricos ante o tesão masculino pelo grito de gol. Pois o tesão da pelada cega e gela a alma.
“O futebol é sagrado”, dizia certo tio quando estávamos na casa dele e queríamos assistir algum programa diferente no horário das partidas. Ele não pensava duas vezes na hora das partidas: nos mandava brincar na rua, para o quarto jogar videogame, para a casa da avó, para qualquer lugar que não fosse atrapalhá-lo na concentração para o jogo. Chegava ao ponto de nos dar dinheiro para o fliperama.
Meu Deus!!!
O universo masculino é tóxico e vem sendo exposto em banho-maria no machismo. Que vergonha.
P.S. Após breve reflexão, este cronista constatou que o problema dos homens era mais genérico quanto ao time do coração, bastava ser futebol.

Cidadão carioca, apaixonado pelo Botafogo e suburbano mesmo, com orgulho. Morador de Costa Barros, preto, sim senhor! Pai do Matheus e da Baleia. Marido [amante e namorado da mesma mulher], cronista, professor de Língua Portuguesa, jornalista em formação, aluno da escola da vida. Amante de boa música, boas leituras, séries e conversas. Escreve sobre o que pensa sem medo, mas com responsabilidade. Gosta do exercício de se colocar no lugar do outro. E acredita que por não existir perfeição debaixo do sol os rótulos são apenas metáforas.
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9 respostas em “O mundo do eu, ou uma crônica sobre ser machista?”
Sensacional!!!
gostei demais da crônica, bem realista.
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Muito bom kkkk 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾
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Bastante verdadeiro.
Crônica perfeita !!!!
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Muito bom!
Obrigado pelo comentário flamenguista. Não deixe de acompanhar a página tem muita crônica boa por aqui. Abços!!!