Estou apaixonado, pela foto do Facebook. Ela parece perfeita. A conheci pelo Facebook mesmo, amigos em comum. Ela também é artista como eu e estava no Rio. Agora voltou pra Santiago e mais ou menos uma vez por mês, conversamos, ou melhor, trocamos algumas mensagens pelo Instagram.
Não temos tanta intimidade assim. Mando uns likes e ela às vezes curte alguma foto minha, o que só faz a vontade de estar com ela aumentar.
À noite, principalmente nas sextas, deixo na cabeceira no laptop uma foto do perfil dela até eu dormir.
Ela vem todo final de ano pro Brasil. Comprei dois ingressos pra um show que acontecerá em dezembro e já a convidei, agora em maio. Ela disse que gostou do convite, mas que não sabe se estará no Rio nessa época. É que o show é bem no início de dezembro. Quer dizer, acho que foi isso que ela quis dizer.
E tem aquela música do Caetano também. “Sozinho”. Até criei uma playlist com o nome dela pra escutar quando fico na solidão e sonhando em estar com ela, e mal a conheço. Essa música serve também para quando fico vendo as suas fotos de perfil.
Prefiro as fotos de perfil aos outros álbuns. Nas fotos de perfil posso ver a cor dos olhos, a boca fina, o nariz certinho, ela pequenininha. É que ela é baixinha.
Será que estou idealizando? Minha analista disse que sim. Mas é melhor estar apaixonado por uma foto de perfil do que “caminhar sozinho”, como diz Caetano em outra música.
E se eu conseguir sair com ela algum dia? O que vou falar? Será que dará certo? Será que depois da gente transar, ela vai me convidar pra Santiago? Será que vai gostar da minha família do interior? Será que minha família vai gostar dela? E, será que vou conseguir levá-la pra casa de praia do meu tio ou pro natal com minha família? Será que seremos uma família?
Na verdade, sei. Sei que nem sei se ela gosta de mim. “Gostar” é uma coisa muito vaga. Meus sobrinhos adolescentes gostam de alguém na matinê. Mas é uma situação diferente. Pra eles gostar de alguém é o máximo possível de afeto. Gostar de alguém, na adolescência é ser o casal dessa outra pessoa, é quase um casamento… Sim, o amor eterno, coisa e tal.
Mas gosto dela. Pelo menos das fotos dela. Quem sabe as fotos dela não sejam representações exatas do match entre nós dois?? E ainda tem aquele negócio novo do Spotify. Agora, a gente pode mandar um convite pra alguém (ela, claro) para ver se dá match e as nossas playlists são criadas automaticamente. Quero mandar pra ela, esse convite. Aliás, tenho a seguido stealth no Spotify. Ela só escuta música boa. Falando nisso, o que encontrei da internet dela é demais! Já conheço a família toda dela. Onde ela estudou, onde fez intercâmbio, o que ela já expôs como artista… adoro tudo aquilo.
E posso dizer, já está tudo planejado. Moraremos em Santiago por um tempo. Depois vamos pra Europa. Talvez Portugal, talvez Itália ou quem sabe, Paris. Ela vai trabalhar com fotografia, vai ter uns jobs pra ajudar a pagar as contas e fará seu trabalho autoral nas horas vagas. Já eu, vou pintar o tempo todo e depois faremos amor. Talvez filhos? Sim, talvez.
Agora que parece que a pandemia está chegando ao fim, tudo isso parece possível.
Só falta ela saber quem eu sou.

Nascido em Petrópolis, filho de pais artistas, aprendeu a surfar no Arpoador. Formado em Filosofia pela PUC-RIO, atua em diferentes formas de arte, como a pintura, a música, a escultura e a escrita.