Quem não gosta de ouvir uma boa história? Seja ela real ou fictícia, é só começar a contar e já ansiamos pelo final, ou será que só eu sou ansiosa? Agora eu tento me controlar, mas já aconteceu de eu ler o último capítulo de um livro só para saber se o casal protagonista teria um final feliz, após saber que tudo ia acabar bem voltei a ler de onde parei com toda a tranquilidade do mundo. Por achar que isso não é saudável, tenho me segurado e lido na ordem convencional.
Ultimamente tenho preferido ler e ver histórias de ficção, as baseadas em fatos ou os documentários costumam me deixar mais ansiosa ainda, principalmente os que falam de tragédias e infortúnios, pois quando tem final feliz demora muito para chegar. Vez ou outra ainda me arrisco, porém a história e meus questionamentos permanecem comigo por semanas a fio, ora me atormentam, ora me inspiram. Esses dias me peguei pensando por que eu tenho preferido a ficção: fuga da realidade.
Sim, eu gosto de habitar por mundos imaginários, realidades paralelas, outras dimensões; mesmo que seja aqui na Terra, no mundo que conhecemos, que a realidade seja um tanto distorcida, para que fique mais agradável. Eu gosto quando o casal se deita na grama trocando juras de amor e a grama não pinica, não dá alergia e não tem um monte de insetos subindo em cima dos personagens.
Ninguém precisa ver a aflição do dono do carro que foi arremessado durante a briga entre o super-herói e o vilão, ficar horas ao telefone brigando com a seguradora e ela informando que o seguro não cobre ação de seres de outros planetas. Como a pessoa explicaria ao chefe que chegou atrasada por que o metrô foi atacado por um homem que usava uns braços mecânicos e só não morreu por causa de um outro vestido de azul e vermelho que se pendurava em cordas, que pareciam teias, conseguiu parar o metrô e evitar o pior? Até poderia mostrar um vídeo da ação, mas o chefe ia pensar que era produção de uma inteligência artificial qualquer.
Na ficção, o casal apaixonado sai no meio do expediente, encontra uns garotos jogando basquete, juntam-se a eles, brincam, divertem-se, ao final nem suados estão. A mocinha continua com a maquiagem intacta, o mocinho nem assanhado está, o desodorante simplesmente não venceu. Eles sentam-se em um banquinho para tomar sorvete e ninguém questiona a falta deles, os compromissos desaparecem e voltam a surgir harmoniosamente. O casal está agora com as energias renovadas para enfrentar qualquer desafio corporativo.
Algumas histórias ousam tratar desses detalhes peculiares, mas de um ponto de vista cômico, leve e divertido, bem diferente da estressante e incômoda realidade. Algumas histórias, mesmo na ficção, não têm finais felizes. A alegação é que querem nos passar alguma lição sobre a vida. Eu não quero lição nenhuma, eu quero só me desconectar da realidade e por alguns instantes sonhar, recarregar as baterias para retornar e continuar.
Nasci em Cabrobó, Sertão Pernambucano. Sim, Cabrobó existe, não é só uma expressão que quer dizer algo muito distante. Sou tradutora e intérprete de Libras no IFSertãoPE há quase 10 anos. Apaixonada por crônicas, tenho dois livros publicados: Crônicas de uma intérprete (Letramento) e Notas de uma depressiva (Viseu) e muitos outros ainda na minha cabeça. Escrever é terapêutico e libertador.
2 respostas em “FICÇÃO”
As vezes, um pouco de aventuras é bom pra escapar da triste realidade que nos cerca, Raquel.
Por isso também que prefiro assistir corridas de automóveis ou jogos de futebol e basquete. É uma válvula de escape boa para mim.
Mas concordo contigo no quesito ficção. Prefiro viajar por sete léguas entre abismos e florestas usando o RPG como instrumento.
Matar goblins, caçar dragões, beber em tabernas e conseguir tesouros de todo tipo. Além de cruzar com heróis como um cavaleiro das trevas e um homem de capa vermelha.
E enfrentar uma múmia que se transforma num poderoso faraó da antiguidade.
Esta é uma válvula de escape maravilhosa. Hora de desconectar um pouco desta sociedade maluca que nos cerca.
É isso, Raquel. Um grande abraço e até a próxima.
Seu texto transmite uma mensagem bonita, Raquel. A desconexão, em tempos tão agitados, é necessária para a preservação da nossa sanidade.