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Em busca do pretérito mais-que-perfeito

É um tempo verbal praticamente em desuso, mas a gramática o define como descrição de uma ação que ocorreu antes do pretérito perfeito e foi justamente nesse conceito que pensei ao vê em um jornal que uma banda baiana dos anos 90 irá retornar com apresentações no Carnaval.

O revival está cada vez mais comum. Caetano e Gil (Dois amigos, um século de música), em 2015, os novos baianos (Acabou Chorare – Novos baianos se encontram), em 2017. Alceu, Elba e Geraldo Azevedo (O grande encontro), em 2016. Sandy e Júnior (Nossa história), em 2019 e Titãs em 2023. Intérpretes e os milhões que compram os ingressos unidos pelo pretérito mais-que-perfeito.

Somos verdadeiros apaixonados quando a questão é viver! Ansiamos para que o momento bom congele e assim,” Ai de mim, que sou romântica (o)” prosseguimos… pensando que “Eu era feliz e não sabia” e completamente nostálgicos diante dos retratos da infância. Mas, de onde vem esta romantização? O romantismo surgiu em face da Revolução Francesa, o que trouxe tensões nas novas classes sociais que estavam sendo formadas e dessa forma, o desejo de escapar e encontrar um refúgio nem que este seja no passado é a regra.

Portanto, mais que encontros de lendas musicais a humanidade caminha em direção ao escapismo e motivos não faltam. Aquecimento global, violência, sistema de saúde precário, casos persistentes de racismos e a lista com certeza em sua mente só cresce não é verdade? Porém, é Carnaval, cidade! É Carnaval, Brasil!

Bem…quero tomar uma taça de vinho enquanto, a minha palylist preenche a casa de Elis Regina.

6 respostas em “Em busca do pretérito mais-que-perfeito”

A vida em si é um eterno paradoxo, pois quanto mais avançamos em busca de algo que ficou para trás, mais perfeito fica o pretérito e dispensamos os imperfeitos, se é que valheriam alguma coisa. Parabéns pela crônica.

É aquele negócio de cada um procurar seu pretérito no lugar onde possa se encontrar.

No meu caso, a nostalgia está nos sebos onde encontro velhas histórias do Batman da Editora Abril que me faz lembrar da adolescência, Placares dos anos 70 e 80 da infância e livros variados que me fazem recordar cada momento da minha vida, cada pessoa que cruzei no caminho que percorri nesta estrada e cada lembrança provinda destes mesmos amigos.

E sem falar dos videogames, dos jogos de tabuleiro e tantas outras coisas que nos deixam em um eterno pretérito mais-que-perfeito.

Eu tenho outro nome pra isso se me permitir. Refúgio. O refúgio da solitude de um mundo cruel que nos cerca a cada dia.

E cada um se defende como pode. Agora mesmo estou voltando com palavras cruzadas que é outra rota em busca do pretérito mais-que-perfeito.

Muita boa crônica. Até a próxima.

Que riqueza de comentário! Das tuas linhas já dá uma outra crônica. E concordo contigo é de fato um refúgio. Obrigada pela leitura e comentário.

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