Revirando as gavetas deparei com uma peça do vestuário curiosa. Parei alguns instantes olhando aquele pedaço de pano retangular com tiras elásticas nas bordas e refleti o que aquela peça representava. Fiquei espantado ao perceber que não faz tanto tempo assim e vivíamos praticamente outra realidade, uma sensação de tristeza me veio à mente.
Como pudemos mudar tanto em tão pouco tempo? Foi uma época esquisita, pelo menos para mim. Dias de incertezas e angústias. A sociedade havia mudado de tal forma que chegou a interferir na economia dos países, mudou hábitos e costumes, deu novas caras à sociedade.
Voltando pouco antes desse período nebuloso lembro das festas e das alegrias, jovens entusiasmados com as novidades tecnológicas, os idosos aprendendo a conviver com aparelhos brilhantes e a grande invenção dessa modernidade, os moderníssimos aparelhos celulares.
Na verdade, são pequenos microcomputadores de mão tal a diversidade, e recursos de comunicação, esses pequeninos aparelhos traziam consigo. O mundo mergulhava de vez no consumismo desenfreado, era cada vez maior o desejo de possuir sempre os mais avançados aparelhos. A internet chegou de vez para fazer parte da vida moderna e com ela novas estrelas-relâmpagos surgiam a cada instante. Havia vídeos para todos os gostos, desde lições de como riscar um palito de fósforo até a explicações físicas sobre a teoria de cordas.
Espetáculos esportivos, acessos a materiais didáticos, curiosidades científicas e práticas do dia-a-dia. Infelizmente, também havia o lado ruim das coisas, pois como em uma terra-sem-lei, havia os maliciosos que se aproveitavam das facilidades e usavam os recursos tecnológicos para promover o mal e corromper algo que poderia servir para evolução social.
Então, veio a grande mudança, o medo se instalou em todos os lares. Estávamos relaxados, acomodados, deslumbrados demais para perceber o mal que se aproximava e quando o pior aconteceu, ninguém teve forças para questionar, ou refletir. Estávamos acuados demais para entender o que realmente acontecia. “Fique em casa” foi a frase mais ouvida nesse período. E apesar de passivos, nem mesmo o fato de se isolar no lugar que considerávamos mais seguros no mundo foi suficiente para dar qualquer alento, pois éramos atormentados por placares de mortes e infectados, eu eram mostrados a cada minuto no único vínculo que dispúnhamos com o mundo exterior. Pessoas sendo agredidas, agentes da ordem encarcerando inocentes, amigos denunciando uns e outros, foi uma loucura generalizada. Os idosos, coitados, que mal conseguiam entender todas as mudanças, foram os mais afetados.
Enfim, o medo foi a tônica desse tempo e essa peça em minha mão virou o símbolo maior. Um remédio sem rosto, sem expressões, sem sorriso…
Não foi um extraterrestre, nem hecatombe nuclear, não foi um regime totalitário, ou uma criatura gigantesca, mas um vírus, um micróbio que parou o mundo. Famílias destruídas, economias interrompidas, a rotina do mundo mudada radical e totalmente. E aquela peça foi a grande solução. Imagine, um vírus mortal ser combatido com um pedaço de pano. Foram tempos loucos mesmo, quem acreditaria?

Sou nascido e resido no Rio de Janeiro, capital, adoro a Língua portuguesa e escrevo desde que aprendi a ler. Quando me pergunto por que escrevo, respondo que “é porque uma vida só não basta”. Tenho muitas histórias para contar e espero que elas sejam tão úteis para quem queira ler, quanto são para mim.
8 respostas em “A Máscara do Mundo”
Parabéns pelo texto! Em sua escrita você transmitiu nitidamente a rotina e o que as pessoas sentiam nesse tempo “desregulado”…
Obrigado, Renato, as pessoas ficaram um pouco histéricas nesse período.
Foi uma época terrível para os idosos, houveram empresas que simplesmente pararam de contratar idosos durante a pandemia, comércios proibindo as suas entradas mesmo trajados com suas máscaras. A proteção é uma coisa boa, claro, mas o nível alarmante que se transformou, trouxe uma cortina negra na vida dessas pessoas em forma de preconceito.
Wellington, meu amigo, o pânico das pessoas é que mais se destacou nesses tempos. Você pegou bem a intenção da crônica
Mto boa a crônica pois reflete o que nós seres insignificantes precisamos aprender. Achamo- nos poderosos, auto-suficientes e donos da verdade, doutores em ciências, tecnologias e tanta coisa mais…. diante do inusitado, o que somos nós!?
Exatamente, Tania, só assim temos noção da nossa fragilidade.
Foram (e ainda são) tempos complicados em que a máscara salvou milhares de vidas aliada com a vacina, é claro.
No entanto, parece que a humanidade não aprendeu tanto assim a lição da Covid-19 e alguns seguem cometendo as mesmas atrocidades que faziam antes de surgir o próprio vírus.
Aí me lembrei da crise da Bolsa de 1929, o crash de Wall Street com todo mundo tão focado nas tendências, modas e riquezas na época que não viu a catástrofe se aproximar e arruinar todo o planeta. O vírus da desvalorização financeira.
Mas agora talvez nem mesmo a máscara nos salve das forças da natureza, meu amigo. Tempestades, tormentas, enchentes e secas serão o nosso novo normal daqui pra frente.
Parafraseando meu pai, só muda os vírus, mas a essência catastrófica é a mesma.
Um bom trabalho. Um grande abraço.
Meu caro Mario Gayer, mais uma vez tenho a honra de ter a sua atenção, obrigado. Nessa crônica tentei ressaltar que foi uma época conturbada mais pelas atitudes das pessoas do que pela máscara propriamente dita.